Raios-bola feitos em laboratório

 

Você já viu alguma bola luminosa durante a queda de um raio? Esse fenômeno muito raro e misterioso, chamado de ‘raios-bola’ ou ‘relâmpagos globulares’, intriga os cientistas há mais de 250 anos e nem Benjamin Franklin (1706-1790), cientista norte-americano conhecido internacionalmente por suas descobertas sobre a eletricidade, foi capaz de explicá-lo. Porém, ele agora está mais perto de ser desvendado, graças a uma experiência simples e – literalmente – brilhante, realizada por um grupo de químicos brasileiros da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE): eles conseguiram reproduzir em laboratório esse evento atmosférico.

Com uma máquina de solda e pastilhas de silício, pesquisadores da UFPE conseguiram reproduzir em laboratório relâmpagos globulares com até oito segundos de duração. Clique na imagem para ver o vídeo do experimento (2,4 MB). (Crédito: Antonio Carlos Pavão).

Existem muitas teorias que tentam explicar a ocorrência dos misteriosos relâmpagos globulares – até os ufólogos têm a sua. Mas o doutorando Gerson Paiva, orientado pelo químico Antonio Carlos Pavão, do Departamento de Química Fundamental da UFPE, apostou na hipótese dos químicos neozelandeses John Abrahamson e James Dinniss, da Universidade de Canterbury, em Christchurch (Nova Zelândia). Segundo ela, o fenômeno se forma pela reação química do silício com o oxigênio do ar. “Quando o raio atinge a superfície da terra, ocorre a produção de silício pela redução da sílica (composto formado por silício e oxigênio), que é o principal componente da crosta terrestre. Depois, o silício evapora e entra em combustão com o oxigênio do ar, formando as bolas luminosas”, explica Pavão.

Os próprios criadores da teoria tentaram realizar o experimento, mas ele não funcionou. Pavão afirma que isso aconteceu provavelmente porque eles usaram sílica e não conseguiram produzir silício com as descargas elétricas. “Nós fizemos diferente: submetemos diretamente pastilhas de silício puro à descarga elétrica de 23 volts e 140 ampéres.”

E deu certo. Na oficina de manutenção da universidade, com apenas uma máquina de solda, pastilhas de silício – conseguidas com colegas da física – e muita criatividade, a equipe reproduziu e filmou as bolinhas luminosas, que saltitavam por até oito segundos pelo chão (veja o vídeo acima). O trabalho será publicado na revista norte-americana Physical Review Letters deste mês.

Agora os pesquisadores saíram da oficina e passaram a reproduzir o fenômeno em laboratório. Pavão ressalta que os resultados ainda são apenas qualitativos. “Falta medirmos o espectro luminoso dessas bolas para descobrir sua temperatura e composição química exatas. Também pretendemos fazer simulações computacionais para desvendar o mecanismo das reações químicas”, conta. “Porém, já foi dado um passo importante para avançar na compreensão desse fenômeno.”

Marina Verjovsky
Ciência Hoje On-line
24/01/2007