Em tempos em que reduzir e reciclar são atitudes necessárias, uma técnica sustentável de produção vem mobilizando os moradores de Paraty, cidade litorânea do Rio de Janeiro, em prol do desenvolvimento da cidade e da preservação do meio ambiente.
A técnica em questão chama-se aquaponia, uma forma de produção que alia a piscicultura à hidroponia – cultivo de plantas na água. Nesse processo, parte do líquido do tanque dos peixes que seria descartada é reciclada e direcionada para a plantação, reduzindo o desperdício e a possibilidade de contaminação dos rios da região.
A produção, a cargo da empresa Ninui desde 2011, conta atualmente com mais de 4 mil tilápias e 3,8 mil pés de hortaliças, entre as quais alface, rúcula e agrião. A atividade tem gerado emprego e renda para a população local, formada em grande parte por quilombolas, caiçaras e indígenas.
Produção sustentável
A água utilizada na criação dos peixes vem de cursos d´água próximos do local de cultivo. “O tanque em que criamos as tilápias tem 80 mil litros de água e precisamos trocar cerca de 20 mil litros por dia; o cultivo das hortaliças permite a reciclagem de grande parte dela”, explica Roberto Andrade, jornalista e diretor executivo da Ninui.
Segundo Cristiane Zanella, engenheira de aquicultura e responsável técnica pelo projeto, a água que sai do reservatório apresenta amônia, o que a torna tóxica. Para resolver esse problema, o aquário possui um biofiltro que remove as impurezas da água e transforma a amônia em nitrato, componente benéfico para as plantas.
O líquido rico em compostos orgânicos, como cálcio, potássio e magnésio, oriundos da ração e dos excrementos dos animais, é reutilizado nas estufas, reduzindo a quase zero a necessidade de adição de outros nutrientes no cultivo. “O ferro é o único nutriente que ainda precisamos adicionar, mas estamos trabalhando em compostos que suprirão essa falta”, completa a engenheira.
Dos 20 litros de água usados na cultura das hortaliças, cerca de cinco mil passa por um processo de decantação e filtragem natural, a base de plantas como gigogas e flores de lótus, e é devolvida ao rio. “A avaliação da qualidade dessa água é feita de forma rigorosa, seis vezes por dia”, enfatiza Andrade.
O próximo passo na busca pela diminuição dos resíduos da atividade é transformar as aparas dos peixes (espinha e cabeça) em bolinhos, salsichas e linguiças; as vísceras, em adubo e ração; e o couro do animal, em matéria-prima para o trabalho de um grupo de artesãs de São Gonçalo, município próximo à Niterói. Essas etapas devem começar a ser viabilizadas em 2012.
A iniciativa foca o mercado e a mão de obra locais, diminuindo o impacto causado pelo deslocamento tanto dos alimentos quanto dos trabalhadores. Toda a produção é direcionada exclusivamente para a região, sendo, tanto o filé do peixe quanto as hortaliças, comercializada em supermercados da redondeza.
A Ninui procura agora replicar o projeto por meio de convênios com escolas de Paraty. A ideia é ensinar a técnica aos moradores, aumentando a oferta de trabalho e impulsionando a economia da região.
Ana Carolina Correia
Ciência Hoje On-line