Refúgios de predadores

Apesar da extrema redução das áreas de vegetação nativa no cerrado paulista, devido ao desmatamento e à expansão do cultivo agrícola, os animais selvagens estão encontrando meios de sobreviver. Estudo realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) mostra que espécies carnívoras se refugiam nas florestas de eucaliptos, tão comuns no estado como os canaviais.

Apesar da degradação ambiental no cerrado paulista, as câmeras instaladas pelos pesquisadores em florestas de eucalipto da região registraram a presença de dez animais carnívoros ameaçados de extinção, como o lobo-guará (à esquerda) e o puma (à direita).

Durante a pesquisa, realizada nos municípios paulistas de Luiz Antônio e Santa Rita do Passa Quatro, foram encontrados dez animais carnívoros ameaçados de extinção, como o puma (Puma concolor) e o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), apesar da degradação ambiental na região.

Para verificar a presença dos animais nas florestas de eucalipto, os pesquisadores instalaram em pontos aleatórios 21 câmeras e 20 canteiros para capturar pegadas. Durante 18 meses, recolheram o material fotográfico e analisaram as pegadas dos animais. Os resultados mostram que as espécies são encontradas tanto na vegetação nativa como nas florestas eucaliptais de reflorestamento.

Segundo os autores do estudo, os biólogos Maria Carolina Lyra-Jorge, Giordano Ciocheti e Vânia Regina Pivello, do Laboratório de Ecologia da Paisagem e Conservação da USP, a sobrevivência dos animais na região depende de inúmeros fatores, como a presença de vestígios da vegetação nativa e de animais em posição inferior na cadeia alimentar.

Lyra-Jorge conta que a existência de fotografias de carnívoros de médio e grande porte indica que suas presas também podem ser encontradas nas florestas de eucalipto. Segundo ela, a conservação desses pequenos animais na região deve receber atenção especial, já que sua presença está relacionada com a sobrevivência dos grandes carnívoros.

Condições favoráveis à sobrevivência

Entre os animais carnívoros encontrados pela equipe da USP nas florestas de eucalipto de São Paulo está a jaguatirica (Leopardus pardalis).

Os pesquisadores esclarecem que o estudo, publicado em março deste ano na revista Biodiversity and Conservation, não buscou analisar as mudanças dos hábitos dos animais. “Queríamos apenas comprovar a presença destes carnívoros nas zonas agrícolas e mostrar que as condições da região podem ser favoráveis a sua sobrevivência,” diz Lyra-Jorge.

A bióloga explica que as florestas de eucalipto são acolhedoras para lobos e pumas, porque o corte de suas árvores demora em média sete anos. “A cana-de-açúcar, por outro lado, já é aproveitada em apenas dois anos.”

Mas ela ressalta que a plantação de eucaliptos não é a solução para reverter o risco de extinção dos animais carnívoros. “Os ambientes naturais possuem diversidade e complexidade que não podem ser alcançadas em uma monocultura como o eucalipto”, esclarece. “É preciso orientar os agricultores para que pratiquem uma agricultura conservacionista.”

Os pesquisadores agora pretendem verificar o quanto as mudanças no hábitat influenciam os costumes dos animais. “Com o uso de colares que transmitem sinais via satélite, poderemos medir o tempo que cada animal permanece em cada área”, adianta. 

Juliana Marques
Ciência Hoje On-line
17/10/2008