Regiões hostis da Terra podem ajudar a achar vida em Marte

 

O estudo de ambientes hostis na Terra pode ajudar os cientistas a entender se houve ou ainda há vida em Marte. Duas pesquisas atualmente em curso analisam regiões de nosso planeta similares a ambientes do vizinho vermelho, a fim de detectar condições e limites para a formação da vida.

Equipes de pesquisadores têm trabalhado a todo vapor no ambiente gélido de uma ilha no oceano Ártico e na região mais seca do planeta – o deserto do Atacama, no Chile -, com o objetivo de mapear essas áreas e desenvolver novas técnicas e instrumentos que auxiliem a busca por vida em Marte.

Equipe da Amase analisa amostras recolhidas em Bockfjorden, Noruega (foto: Amase)

Um desses estudos deve analisar pelos próximos três anos amostras recolhidas na região de Bockfjorden, na ilha norueguesa de Svalbard. Essa é a única região conhecida na Terra em que é possível encontrar compostos de carbonato análogos aos encontrados em meteoritos provenientes do planeta vermelho. O projeto interdisciplinar, batizado Amase, envolve pesquisadores da Universidade de Oslo (Noruega), do Instituto Carnegie, de Washington (EUA), e da agência especial norte-americana (Nasa).

 

A equipe desenvolveu espectroscópios sensíveis a indícios orgânicos e mineralógicos que podem identificar as áreas propícias à ocorrência de organismos vivos no ambiente ártico. Tais instrumentos utilizam técnicas genéticas para identificar e caracterizar populações de bactérias, detectar componentes das paredes celulares e medir a atividade celular a partir da análise do fluxo de ATP – molécula responsável pela síntese de energia e fundamental à formação da vida.

 

A idéia é utilizar a mesma estratégia em uma futura missão da Nasa a Marte, quando decisões em tempo real terão de ser tomadas durante a procura por sinais de vida na superfície do planeta. Depois de identificados os alvos, amostras serão colhidas e estudadas no próprio local. “Testes para a procura de vida em Marte já foram concluídos com sucesso e mostraram que, se a vida lá for parecida com a da Terra, seremos capazes de encontrar ao menos uma célula”, afirma Andrew Steele, pesquisador do Instituto Carnegie envolvido na missão.

 

Os robôs Hyperion (esq.) e Zoe no deserto do Atacama
(fotos: Universidade Carnegie Mellon)

Um objetivo similar é perseguido pelo projeto “Vida no Atacama”, liderado pela Nasa, que manteve uma equipe no deserto chileno até 21 de outubro. A proposta é estudar os escassos organismos vivos do local e entender como formas primitivas de vida poderiam existir em Marte.

 

A primeira fase desse projeto foi concluída em 2003, quando o robô Hyperion foi enviado ao deserto para mapeá-lo e serviu de base para que os cientistas desenvolvessem um outro modelo, mais aprimorado, para as investigações dos próximos dois anos.

 

Esse protótipo foi sucedido por Zoe, um robô autônomo movido a energia solar e desenvolvido pelo Instituto de Robótica da Universidade Carnegie Mellon (EUA). Zoe deve percorrer dois quilômetros por dia e registrar imagens panorâmicas e close-ups do Atacama. Entre os instrumentos utilizados por ele para investigar o deserto, destacam-se um espectrômetro infravermelho e um microscópio fluorescente, desenvolvidos pelo mesmo instituto.

 

Os cientistas pretendem mapear a área e estudar como a presença de vida modifica as propriedades de suas rochas e solos, a partir da análise de sua morfologia, geologia e mineralogia. “Identificar microrganismos vivos ou fósseis em ambientes onde a densidade de vida é uma das menores da Terra ajudará a estabelecer novos critérios para a procura de vida em Marte e em outros planetas”, acredita a líder do projeto, a  pesquisadora da Nasa Nathalie Cabrol.

Isabel Levy
Ciência Hoje On-line
27/10/04