Um manifesto pela diversidade humana

O leitor que acompanha a coluna Deriva Genética toda segunda sexta-feira do mês na CH On-line tem agora a chance de levar para casa os ensaios de Sergio Pena reunidos em um só volume. Acaba de sair do forno pela editora Vieira & Lent À flor da pele – reflexões de um geneticista , que Pena lança em São Paulo na quarta-feira. Marcados pelo profundo humanismo, os artigos do colunista sobre genética e evolução são um manifesto contra o obscurantismo e o preconceito.

O livro discute, de forma inteligente e acessível, alguns fundamentos da genética moderna. Pena revê o papel de nomes essenciais da história dessa disciplina, como Charles Darwin, Gregor Mendel ou Jean-Baptiste de Lamarck, e discute as contribuições de pensadores mais recentes, como Stephen Jay Gould e Karl Popper.

Professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Sergio Pena conquistou nas últimas três décadas o reconhecimento e o respeito de seus pares no Brasil e no exterior. Com os textos da coluna Deriva Genética, publicados desde fevereiro de 2006, ele mostrou que é igualmente um divulgador da ciência do primeiro time, capaz de despertar no público leigo o mesmo fascínio que nutre por sua especialidade.

Os textos de Pena são instigantes e saborosos, marcados por uma teia de referências que não conhece fronteiras entre disciplinas. Com erudição e sem pedantismo, o colunista transita por campos tão diversos como a história, a filosofia, a arte ou a literatura, com a mesma facilidade com que discorre sobre genética. Quem mais poderia propor o brilhante paralelo que ele traça entre o genoma humano e a Biblioteca de Babel do escritor argentino Jorge Luis Borges?

O humanismo é de fato um dos traços mais marcantes da prosa de Sergio Pena. Para ele, o conhecimento científico é, antes de tudo, a premissa fundamental para o pleno exercício da cidadania. Ao mostrar, por exemplo, que o conceito de “raças” humanas não tem qualquer fundamento biológico, Pena oferece ao leitor uma defesa veemente e informada da diversidade humana.

Na era do seqüenciamento de genomas, em que a compreensão pública da genética é pontuada por metáforas fáceis e muitas vezes enganadoras, o livro oferece uma visão esclarecedora dessa disciplina. Contra a visão simplista do determinismo genético, Pena traz à luz o papel da contingência na evolução; ao fantasma da eugenia, ele contrapõe a complexidade da herança genética.

Os artigos de Sergio Pena resistem bem à passagem para o meio impresso. Os ensaios se deixam ler separadamente, como foram originalmente publicados, mas ganham força e unidade reunidos em livro. Neste momento histórico em que a biotecnologia assume um papel central na esfera pública, À flor da pele é uma leitura essencial – e prazerosa – para aqueles que quiserem formar sua opinião sobre a função da ciência na sociedade contemporânea. 

À flor da pele – reflexões de um geneticista
Sergio Danilo Pena 
Rio de Janeiro, 2007, Vieira & Lent 
Fone: (21) 2262-8314
112 páginas – R$ 29,50

 

Bernardo Esteves
Ciência Hoje On-line
23/04/2007