Resíduos de combustível representam risco ambiental

 

 

Posto de gasolina no Rio de Janeiro

É comum observar resíduos de combustível derramados na pista de postos de gasolina, que têm a responsabilidade de recolher e tratar esses efluentes. Mas, segundo a tese de doutorado de Cynthia Rodor, a ser defendida pela Universidade de Brasília (UnB), a falta de manutenção dos sistemas destinados à purificação desses materiais pode permitir que diversos componentes da gasolina contaminem lençóis freáticos, águas superficiais e a rede de esgoto.

 
O ideal é que todo posto tenha um sistema de purificação para tratar o material recolhido no pátio ‐ água, restos de combustível e resíduos sólidos. Esse sistema deve ser constituído de quatro dispositivos: o primeiro é uma caixa de retenção de partículas, que separa os materiais sólidos; no segundo, ocorre a separação do óleo da água. O óleo é conduzido então a um terceiro reservatório, que não tem saída e precisa ser limpo periodicamente, e a água vai para uma última caixa, de onde é liberada na rede de tratamento de esgoto.
 
Em seu estudo, Rodor monitorou todos os postos de gasolina do Distrito Federal e constatou que muitos não realizam a manutenção periódica e apresentam sistemas de tratamento inadequados. Alguns não têm sequer ligação com a rede de esgoto e despejam os efluentes em rios ou lagos próximos ou no próprio solo. “A normatização desses sistemas é relativamente recente”, conta a pesquisadora. “Os postos de abastecimento mais antigos, numerosos em diversas cidades brasileiras, não estariam adequados à legislação.”
 
Rodor analisou em detalhes os efluentes de sete postos de Brasília: foram realizados três testes com o líquido recolhido no último reservatório. Inicialmente, uma caracterização físico-química identificou os componentes desse fluido: foram encontradas dissolvidas substâncias que deveriam ter sido filtradas, como areia, óleos e graxas e fenóis, além de compostos aromáticos como o benzeno.
 

Testes em laboratório avaliaram o efeito dos efluentes de postos de gasolina sobre células de peixes e cebolas

Foram realizados também ensaios para estudar o efeito desses efluentes em seres vivos. Um dos testes analisou células sanguíneas (eritrócitos) de 20 tilápias (peixes capazes de sobreviver em condições adversas), deixadas em contato por 72 horas com soluções do efluente a 10% e 50% em volume de água. Células das raízes de 20 cebolas (vegetais bastante sensíveis) também foram expostas a soluções similares por 24 horas.

 
Os resultados mostram que os compostos presentes nos efluentes são tóxicos para as células analisadas, nas quais foram observadas deformações e redução da funcionalidade. No entanto, a observação dos núcleos das células dos peixes não constatou a presença de mutações (mudanças ou quebras na cadeia de DNA) que pudessem comprometer gerações futuras.
 

Em um etapa posterior do projeto, Rodor pretende realizar um estudo de caso com pessoas que consumiram água de poços supostamente contaminados por derivados de petróleo que vazaram de um tanque subterrâneo próximo. O propósito é comparar os efluentes e realizar uma análise de risco. Em casos anteriores de contaminação por resíduos de combustíveis, as vítimas apresentaram dermatites e intoxicação, muitas vezes graves. Além disso, os compostos aromáticos contidos nos efluentes são relacionados, isoladamente, a muitos tipos de câncer (embora representem, por lei, apenas 1% da composição do combustível).

Marcelo Garcia
Ciência Hoje On-line
30/03/05