Resposta na hora para picada de cobra

 

O método da Unicamp é capaz de identificar o veneno de sete espécies, inclusive a cascavel ( Crotalus durissus terrificus ) – a serpente cuja picada mais mata no Brasil

O mesmo equipamento usado para identificar gasolina adulterada pode ser útil no diagnóstico de picadas de cobra. O novo método, testado no Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (IQ/Unicamp), leva menos de dois minutos para identificar o ofídio causador da picada e pode acelerar a aplicação do soro adequado a cada caso.

A técnica já permite identificar o veneno de sete espécies de serpentes – as mais comuns no país. Entre elas, estão a cascavel ( Crotalus durissus terrificus ), a jararaca ( Bothrops jararaca ) e a Urutu ( B. alternatus ). Os responsáveis pelo estudo pretendem aprimorar o método, para que ele possa reconhecer também o veneno da coral ( B. micrurus ) e surucucu ( Lachesis muta ).

A primeira etapa para se identificar o veneno de uma serpente consiste em separar os peptídios dos demais componentes da peçonha, em um tipo de peneira molecular. Após essa limpeza, o extrato com os peptídios é injetado num espectrômetro de massas – aparelho capaz de apontar a composição de uma substância ao identificar a massa de seus componentes.

Os resultados dessa análise são comparados com um mapeamento preliminar feito pelos pesquisadores, no qual eles identificaram as cadeias peptídicas características dos tipos de veneno que o método é capaz de reconhecer. A partir dessa comparação, é possível apontar de que espécie de cobra vem o veneno.

O estudo vem sendo realizado há seis meses pelo cientista de alimentos Rodrigo Catharino e pelo bioquímico Gustavo de Souza, sob a orientação do professor Marcos Eberlin. “Juntamos a experiência do Gustavo em seqüenciamento de peptídios de cobras com meu trabalho para detecção de adulteração em diversos produtos e alimentos”, conta Rodrigo. O método para comprovação de “batismo” na gasolina é semelhante: consiste na comparação, feita pelo espectrômetro de massas, entre uma amostra do combustível que se deseja testar, com uma amostra pura padrão.

Promessa em hospitais
Cerca de 20 mil pessoas são picadas por ofídios por ano no Brasil, além de animais de estimação e de criação. O tratamento desses acidentes é definido a partir da observação dos efeitos imediatos da picada, já que cada veneno produz alterações distintas no organismo. Identificado o veneno injetado, aplica-se no paciente um dos seis tipos de soro disponíveis, próprios para cada tipo de peçonha.

A identificação do veneno pela espectrometria de massas garante 97% de acerto na análise. A idéia agora e fazer com que a técnica desenvolvida para identificação de cobra através do veneno seja ampliada para diagnósticos clínicos em hospitais, o que pode reduzir consideravelmente as chances de erro.

Além da utilização médica, Rodrigo vê uma aplicação promissora nas indústrias farmacêutica e alimentícia, entre outras. A técnica serviria para controlar a qualidade da matéria-prima usada na fabricação de remédios e alimentos.

Apesar dos resultados promissores, ainda não há previsão para encontrar tal serviço nos hospitais. Para isso, seria preciso que a instituição adquirisse um espectrômetro de massa e tivesse técnicos treinados para a identificação dos venenos. “Por enquanto não temos nenhuma empresa ou instituição interessada”, conta Rodrigo. “O custo do equipamento não seria muito alto para centros médicos, já que o mesmo aparelho permitiria fazer o ‘teste do pezinho’ e exames de sangue para detecção de outras doenças, com rapidez muito maior.”

Rosa Maria Mattos
Ciência Hoje On-line
05/04/2006