Rio, capital mundial da relatividade

Por uma semana, o Rio de Janeiro foi a capital mundial da relatividade: a cidade hospedou entre 20 e 26 de julho a décima edição do Encontro Marcel Grossmann (MG10), um dos mais importantes eventos internacionais dessa área. Quase 500 cientistas de cerca de 70 países participaram das apresentações realizadas simultaneamente em quatro centros de pesquisa do Rio.

Cartaz oficial do 10o Encontro Marcel Grossmann, realizado no Rio

O propósito do MG10 é discutir os últimos avanços da relatividade geral, gravitação, astrofísica e áreas afins. “A relatividade geral foi, ao lado da mecânica quântica, a teoria física de maior impacto cultural e filosófico do século 20”, avalia o coordenador local do evento, o cosmologista Mario Novello, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF). “Ela retirou os conceitos de espaço e tempo do terreno do absoluto e inatingível, como era concebido na física newtoniana, e os transformou em entidades dinâmicas capazes de permitirem seu controle.”

 Esta é a primeira vez que o encontro, que ocorre a cada três anos, é realizado na América Latina. O nome do evento homenageia o matemático húngaro Marcel Grossmann (1878-1936), que foi colega de Albert Einstein e ajudou o alemão a formular matematicamente os conceitos da teoria da relatividade que ele desenvolvera.

Cartaz oficial do 10o Encontro Marcel Grossmann, realizado no Rio

O MG10 trouxe boas notícias para o Brasil: na abertura do evento, o ministro da Ciência e Tecnologia, Roberto Amaral, anunciou a criação do Instituto Nacional de Cosmologia, Relatividade e Astrofísica. O instituto funcionará nas instalações do CBPF e será o “braço” brasileiro do Centro Internacional de Astrofísica Relativística (Icra, na sigla em inglês), rede internacional de pesquisa que conta com cientistas da Itália, Austrália, EUA, Rússia, França, China, Chile, Armênia, Vietnã e Vaticano.

Outro destaque do MG10 foi a apresentação da Gravity Probe B, sonda norte-americana a ser lançada em 13 de novembro para medir como a Terra provoca distorções no espaço-tempo a sua volta. A sonda custou cerca de 500 milhões de dólares e permitirá confirmar experimentalmente algumas previsões teóricas da relatividade geral de Einstein.

 

 

No MG10, os físicos Cesar Lattes e José Leite Lopes   receberam, ao lado de Jayme Tiomno, o Prêmio Marcel Grossmann (categoria institucional) em nome do CBPF, do qual os três foram fundadores

Além das apresentações para cientistas, a programação do evento incluiu palestras voltadas para ao grande público. O próprio Novello discutiu, por exemplo, modelos cosmológicos alternativos ao Big Bang (grande explosão que teria dado origem ao universo há mais de 13 bilhões de anos). Em outra conferência, o italiano Remo Ruffini, presidente do Icra e professor da Universidade de Roma (Itália), debateu os disparos de raios gama, radiações superenergéticas que podem ajudar a entender a evolução das estrelas.

 

O MG10 é “um evento de extraordinária importância devido ao grande avanço tecnológico registrado nos últimos anos em experimentos de relatividade geral, bem como observações cosmológicas realizadas em satélites”, avalia Novello. O encontro trouxe “a oportunidade de inferir as direções mais promissoras para a pesquisa científica nessa área neste começo de século.”

Bernardo Esteves
Ciência Hoje on-line
25/07/03