Rio pode ganhar o primeiro surfódromo brasileiro

O Rio de Janeiro pode ser a primeira cidade brasileira a ter um surfódromo. Professora da área de Engenharia Costeira e Oceanográfica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Enise Valentini vem estudando a possibilidade de instalar um fundo artificial na praia da Macumba, na zona oeste da cidade. O sistema seria capaz de alterar o tamanho e a forma de arrebentação das ondas no local, e permitiria o desenvolvimento de manobras de surfe com vários graus de dificuldade. Esse fundo artificial interferiria apenas em um trecho da praia.

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À esq., a arrebentação natural da praia da Macumba. À dir., um exemplo
de onda que se formaria com o fundo artificial (imagens: Coppe/UFRJ)

Segundo Enise, embora o clima do litoral fluminense seja propício à formação de ondas na maior parte do ano, os fundos de areia típicos da região não favorecem uma arrebentação apropriada para a prática do surfe. “As ondas quebram-se rapidamente e limitam o desenvolvimento do surfista”, explica. A instalação de um fundo artificial permitiria modificar esse quadro: ao interagir com ele, a onda aumentaria sua densidade de energia e arrebentaria de forma adequada.

Em função das ondas incidentes e da geometria do fundo artificial, o surfódromo pode aumentar em até 80% a altura das ondas naturais (de 1,2 metro em média). Uma mesma onda poderá quebrar duas vezes: na primeira, com maior altura sobre o fundo artificial distante da beira da praia, na faixa em que os surfistas praticarão o esporte; na segunda linha de arrebentação, as ondas serão bem mais baixas, pois já terão perdido energia e proporcionarão um ambiente mais calmo e seguro para os banhistas.

O fundo artificial será composto por diversos níveis de profundidade, que possibilitarão ondas de tamanho variado — desde trechos com ondas maiores e mais rápidas, destinadas a surfistas experientes, até faixas com ondas mais baixas e cheias, adequadas para principiantes.

O material ideal para a construção desse fundo ainda está em estudo. Enise afirma que provavelmente ele será feito de concreto que, por ter superfície lisa, aumentaria a segurança dos surfistas. No entanto, a pesquisadora também está analisando a influência da rugosidade do fundo na mecânica das ondas.

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Visão em perspectiva do fundo do mar nas proximidades da praia da Macumba com uma das possibilidades de fundo artificial instalado. Os tons de azul indicam a profundidade: quanto mais escuro, mais fundo. 

O projeto do surfódromo desenvolvido por Enise tem previsão de conclusão em 2 meses. Para ser executada, a obra depende do apoio da prefeitura. Ainda não há estimativas de custo para o projeto, mas sabe-se que os cálculos devem sofrer variações de acordo com o tamanho do fundo e o material adotado para construí-lo. No futuro, a estrutura poderá ser adaptada a outras praias que não tenham grandes variações de maré, pois a dinâmica de suas ondas não sofreria alterações em períodos de maré cheia ou baixa.

“Não há no Brasil um local que apresente regularmente raias propícias para a prática do esporte”, aponta Enise. “Com a implantação desse projeto, os surfistas brasileiros teriam um local para treinamento. A construção de surfódromos aumentaria o turismo e atrairia eventos ligados ao surfe para esses locais.”

Renata Moehlecke
Ciência Hoje On-line
13/04/04