Roupa nova para um clássico da ciência

Uma das maiores obras de toda a história do pensamento científico, A origem das espécies , de Charles Darwin, acaba de ganhar uma nova edição brasileira. O livro que consolidou a biologia evolutiva e inaugurou uma nova era para as ciências da vida pode ser conferido agora em um volume ilustrado com algumas charges e fotos do autor e muitos desenhos de bichos reproduzidos de uma enciclopédia alemã do século 19.

A origem das espécies : a nova edição brasileira e o frontispício original, de 1859

Publicada originalmente há 145 anos, a obra apresentava ao grande público a teoria de Darwin sobre a origem e evolução das espécies. Os 1250 exemplares postos à venda esgotaram-se no primeiro dia e o sucesso do livro foi tão grande quanto a polêmica que gerou. Darwin foi acusado de heresia e descreditado por muitos cientistas.

 

 

A teoria descrita no livro se fundamenta em parte em observações realizadas quase trinta anos antes de sua publicação: em 1831 Darwin partira para uma viagem de cinco anos como naturalista do navio Beagle, quando pôde observar e estudar a geologia, fauna e flora dos lugares visitados.

Darwin não estava muito seguro de suas conclusões. A demora para publicá-las teve ao menos um ponto positivo: o inglês pôde ouvir muitas dúvidas e contestações sobre a teoria que vinha desenvolvendo nos últimos 20 anos. A origem das espécies traz dois capítulos inteiros dedicados a rebatê-las. Mesmo assim, o livro foi duramente criticado, sobretudo por adeptos do criacionismo .

No livro, Darwin afronta os preceitos bíblicos que permeavam o criacionismo ao postular que as espécies sofriam mutações lentas e aleatórias e evoluíam em função da luta pela sobrevivência e da seleção natural — os conceitos mais polêmicos de sua teoria. Para desenvolvê-los, o autor adaptou conceitos de Thomas Malthus elaborados no Ensaio sobre o princípio da população .

Darwin sofreu influência também das teorias geológicas da época, que o ajudaram a responder uma das dúvidas mais freqüentes sobre sua teoria: se as espécies atuais resultam de mutações que ocorreram em outras do passado, como explicar o desconhecimento de espécies intermediárias? O autor busca nos Princípios de geologia de Charles Lyell, que ganhara de presente do capitão do Beagle, a base para a resposta.

 

 

A origem das espécies deve muito ainda ao naturalista inglês Alfred Wallace: na introdução, o autor chega a afirmar que Wallace, em um ensaio anterior ao seu livro, havia chegado a conclusões quase idênticas às suas. Darwin é tributário também de Jean-Baptiste Lamarck, muitas vezes mal visto nos bancos escolares, mas consagrado por ele como um dos primeiros a chamar a atenção para a origem das espécies.

Em vermelho, a rota da expedição que Darwin realizou a bordo do Beagle, durante a qual fez observações que fundamentaram a teoria da evolução

 

Assim como Darwin agradece a muitos em sua obra-prima, deve-se agradecer muito a ele. O livro é escrito em linguagem acessível e traz exemplos práticos de pesquisas realizadas por ele até a publicação. Cada capítulo possui uma pequena introdução para inteirar o leitor do que será abordado em seus subtópicos. E no final há um glossário de termos científicos que Darwin gentilmente oferece ao leitor sem muita familiaridade com o assunto.

Do primeiro lançamento de A origem das espécies , em 1859, até a morte de Darwin, em 1882, o texto do livro foi revisto e teve seis edições. A nova edição brasileira — o relançamento de uma tradução de 1987 — não deixa claro em qual delas se baseou, mas tudo indica que tenha sido na primeira.

 

A origem das espécies
Charles Darwin (trad.: Eduardo Fonseca)
Rio de Janeiro, 2004, Ediouro
Coleção Clássicos de ouro ilustrados
Fone: (21) 3882-8200
520 páginas – R$ 54,90

Aline Gatto Boueri
Ciência Hoje On-line
06/08/04