Rumo à cura total da leishmaniose

 

O uso de uma nova substância para combater a leishmaniose cutânea promete uma cura mais rápida e eficiente da doença, conhecida como úlcera de pele. O composto, testado por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), serve como um complemento ao tratamento convencional, que nem sempre é eficaz para os pacientes.
 
Em testes feitos com camundongos, ele provocou uma melhora na resposta do sistema imunológico desses animais testados e levou à morte do parasita causador da leishmaniose e à cura das lesões. “Além do ótimo resultado, constatamos que o medicamento não causou efeito colateral”, afirma o imunologista Kenneth John Gollob, professor da UFMG e coordenador da pesquisa.
 
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O parasita causador da leishmaniose é transmitido pela picada dos insetos Lutzomyia .
(foto: WHO/TDR/Stammers).

Além de efeitos colaterais penosos, como fadiga, dores no corpo, alterações cardíacas e desbalanço químico, o tratamento convencional, à base de antimônio, pode não funcionar em alguns casos. Isso pode ocorrer quando não houver ativação suficiente das células de defesa ou quando acontece uma hiperativação dos leucócitos (células de defesa), que passam a produzir substâncias inflamatórias em excesso, responsáveis pelo agravamento das lesões. O tratamento pode não ser bem-sucedido em um terceiro caso: em situações em que a resposta imunológica do paciente não seleciona a célula de defesa mais adequada para combater o invasor – o protozoário do gênero Leishmania .

 
Segundo Kenneth Gollob, a substância testada– a N-acetil-cisteína – atua na ativação do macrófago (célula de defesa importante para eliminar o parasita) quando este não responde ao primeiro tratamento. É possível que o composto possa ser usado como um complemento do medicamento convencional.
 
Duas outras substâncias estudadas por Gollob, da UFMG, e pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (UFBA), coordenados pelo Edgar Carvalho, apresentam-se promissoras para combater a leishmaniose cutânea. Esses compostos já foram testados com sucesso em pacientes humanos na Bahia. “Trabalhamos com as moléculas GM-CFS e pentoxifilina, que atuam de formas opostas no tratamento complementar ao tradicional”, explica o imunologista. “Enquanto a primeira ativa o sistema imunológico, a segunda inibe a ativação excessiva de leucócitos.”
 
As falhas no sistema imunológico associadas ao tratamento convecional são explicadas pelas estruturas genéticas diversificadas de cada paciente, que pode reagir de forma diferente ao ataque do parasita. Ao mesmo tempo, o próprio protozoário pode apresentar variações genéticas, o que dificulta sua identificação. Para Gollob, essas novas substâncias podem, portanto, modular a resposta do sistema imune, de maneira a controlar, selecionar ou ativar as melhores células de defesa.
 
A partir desses estudos, o especialista acredita que agora será mais fácil desenvolver vacinas. “Ao recebê-las, o indivíduo ‘prepararia’ seu organismo de defesa para reagir de forma eficiente quando for contaminado pela Leishmania ”, completa o imunologista.
 

Outra proposta seria estudar um tipo de marcador imunológico, como um exame de sangue, capaz de detectar logo no início da doença o perfil do sistema de defesa do paciente. Com o resultado, o médico anteciparia a escolha de uma das substâncias – GM-CSF, pentoxifilina, N-acetil-cisteína – para ser aplicada junto ao antimônio.

Mário Cesar Filho
Ciência Hoje On-line
21/10/05