Bruxas e anticoncepcionais: um fio histórico sobre práticas de controle do corpo da mulher

Bruxas e anticoncepcionais: um fio histórico sobre práticas de controle do corpo da mulher

Instituto de Química/UFRJ

A saga feminina pelo controle do próprio corpo e do próprio destino desde a Idade Média até os dias atuais é apresentada no artigo “Bruxas e anticoncepcionais: um fio histórico sobre práticas de controle do corpo da mulher”, de Rodrigo Volcan de Almeida (CH 398). Nele, o autor discute as influências religiosas e econômicas que dirigiram os corpos femininos de forma violenta, cruel e opressora ao longo da História. 

Muitas mulheres foram condenadas à morte por exercerem o controle da natalidade ou por doarem seus corpos a sucessivas gestações que debilitaram seu físico. As bruxas da Idade Média eram, muitas vezes, parteiras e curandeiras.

Sob a teoria de explosão demográfica e escassez de alimentos do economista inglês Thomas Malthus, as pesquisas para o desenvolvimento de contraceptivos femininos desenvolveu-se no século XX até chegar na primeira pílula anticoncepcional, o Enovid (1950).

Mais uma vez, os interesses econômicos se sobrepujaram aos das mulheres, e os testes para o desenvolvimento do anticoncepcional feminino tiveram episódios da mais pura falta de ética em ciência. Testes feitos sem o conhecimento das pessoas testadas foram uma realidade na década de 1960.

Possibilidades de abordagem:

  • Correlacionar a nomenclatura dos radicais orgânicos com suas estruturas químicas;
  • Discutir a diferença entre a dose do medicamento e sua biodisponibilidade no organismo;
  • Refletir sobre os impactos socioambientais ocasionados pelo uso dos anticoncepcionais femininos esteroidais;

Proposta de atividade:

O texto traz uma riqueza histórica e, na parte final, faz alusão ao medicamento Enovid, que foi lançado como contraceptivo em 1960 nos Estados Unidos. 

O Enovid é um contraceptivo oral combinado de dois hormônios: mestranol e noretinodrel. Estes hormônios são esteroides cuja estrutura geral é formada por quatro anéis ligados entre si, cujas posições dos átomos de carbono dos anéis seguem uma numeração padrão (Fig. 1).

Figura 1. Esqueleto básico dos esteroides e a respectiva numeração dos átomos de carbono.

O mestranol (Fig. 2) é um composto inativo que, ao ser metabolizado no fígado humano, sofre uma desmetilação na posição 3 e transforma-se no composto com atividade estrogênica, o 17 alfa-etinilestradiol.

Figura 2. O hormônio sintético Mestranol (etinilestradiol 3-metil éter).

Em sala de aula, a discussão acerca dos hormônios esteroidais naturais e sintéticos oferece muitos exemplos em relação a semelhanças e diferenças entre suas cadeias carbônicas e suas implicações na atividade biológica no organismo. Ao professor, sugere-se provocar uma proposta estrutural para o derivado de mestranol após a “desmetilação” ocorrida no processo de metabolização pelo fígado. O que é desmetilar? Qual o radical envolvido? Em que posição na cadeia carbônica do mestranol ocorre a desmetilação? Que novo grupo se forma após a desmetilação?

Outro ponto a ser debatido é a responsabilização excessiva sobre a mulher em relação à contracepção. Além das despesas com a medicação, os efeitos colaterais trazem desconforto e riscos à saúde feminina. Nas primeiras gerações de contraceptivos orais, as doses eram elevadas e havia muitos efeitos adversos. Hoje o cenário é bem melhor, porém há que se aperfeiçoar tais medicamentos em prol da melhoria da qualidade de vida das mulheres. 

Por fim, o impacto ambiental provocado pelos desreguladores hormonais causam distúrbios fisiológicos nos animais aquáticos e no homem. Dentre essas substâncias encontram-se os hormônios naturais e sintéticos eliminados pelos seres humanos, sobretudo nas grandes cidades. É um aspecto que pode ser considerado no conjunto de discussões, mas que não se esgota em uma aula e dá margem a outras propostas.

Recursos utilizados:

  • Uso de quadro branco e slides com as estruturas de moléculas;
  • Fatos e fotos históricas acerca dos contraceptivos femininos de uso oral;
  • Dados sobre a poluição ambiental dos hormônios nos corpos hídricos.

Almeida, R. V. “Bruxas e anticoncepcionais: um fio histórico sobre práticas de controle do corpo da mulher”. CH 398.

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