Narrativas de escravizadas brasileiras

Narrativas de escravizadas brasileiras

Ginásio Experimental Olímpico (GEO) Rose Dalmaso

A escravidão no Brasil engloba uma série de grandes processos que estiveram entremeados em todas as dimensões da sociedade ao longo dos quase quatro séculos de sua duração. Contudo, o foco nos processos e estruturas por vezes não nos permite dar conta da sua complexidade e dimensão humana. Ainda que dentro das limitações impostas pela existência do cativeiro, pessoas negras escravizadas e libertas conseguiam construir subjetividades e ter alguma agência sobre suas vidas, com casos que desafiam o senso comum.

Esse é o caminho apontado pelo artigo de Fernanda Felisberto ao tratar de “autobiografias” (ou melhor, relatos em primeira pessoa) de mulheres negras no Brasil escravista. Um ponto crucial destacado pela autora é que, ainda que vejamos o crescimento da presença “narrativas de escravizados” no mercado editorial, os relatos em primeira pessoa produzidos no Brasil ainda são fragmentários. Considerando os pontos levantados no artigo, nota-se a importância de construir uma proposta que vise dar voz a quem historicamente sofreu silenciamento e resgatar a humanidade a quem ela foi negada.

Possibilidades de abordagem:

  • Identificar diversidade das formas de vida de uma pessoa escravizada no Brasil;
  • Analisar relatos em primeira pessoa de escravizados e libertos, considerando a pluralidade de suas experiências de vida;
  • Debater sobre as limitações e possibilidades de produção e divulgação da história de vida pessoal de uma pessoa que experimentou a escravidão durante o século XIX brasileiro.

Proposta de atividade:

A aula pode começar questionando os alunos e alunas sobre como eles acham que era a vida das pessoas escravizadas e libertas no Brasil do século XIX. Após algumas intervenções, pode-se passar a um exercício de contextualização que ressalte a pluralidade de tipos de trabalho e cotidiano dessas pessoas, assim como as possibilidades de agência dentro dos limites do sistema escravista, que passava pela conquista da liberdade ou conseguir condições de existência e trabalho mais favoráveis. Deve-se ressaltar que, embora estivesse severamente limitada, a ascensão social não era impossível.

Para melhor ilustrar essa diversidade, podem ser projetadas em Datashow ou levadas impressas fotografias de escravos e libertos presentes no jogo “Retratos do Brasil séc. XIX”, do site Ensinar História que, além da versão digital, disponibiliza uma versão transcrita para utilizar em caso de limitação de computadores.

Outra possibilidade é passear com os alunos pelo tour virtual da exposição “Enciclopédia Negra”, da Pinacoteca de São Paulo, que traz dezenas de retratos produzidos por artistas contemporâneos com o objetivo de restaurar a memória e a individualidade de pessoas que atravessaram o cativeiro.

Após essa etapa, deve-se contextualizar sobre a dificuldade de pessoas escravizadas e libertas no Brasil de produzir uma escrita de si, frisando que o ato de escrever e publicar a história da própria vida foi um privilégio das classes dominantes.

Em seguida, os alunos podem ser divididos em grupos e receber três exemplares desse tipo de relato que rompe as expectativas: o trecho do testamento da liberta Maria Roza da Conceição (presente no artigo publicado na CH 404), a carta da escrava Esperança Garcia (acessível no site do Instituto Esperança Garcia) e uma seleção da famosa carta de Luiz Gama a Lucio Mendonça, em que o ex-escravo que se tornou um dos líderes do abolicionismo conta partes de sua própria história de vida (trechos disponíveis no artigo de Ligia Ferreira presente em “Recursos utilizados”).

Sugere-se que cada integrante do grupo receba um fragmento, com a responsabilidade de explicar aos outros colegas de grupo do que se trata seu material em intervalos de tempo pré-definidos pelo professor. Ao fim, pode-se perguntar se as impressões iniciais colocadas ao início foram mantidas, registrando as mudanças.

Sugere-se ainda, de forma complementar, que os alunos selecionem alguns indivíduos que passaram a conhecer e criem uma exposição pelo espaço da escola.

Recursos utilizados:

  • Artigo “Narrativas de escravizadas brasileiras”, publicado na CH 404.
  • Instituto Esperança Garcia. “A carta”. Disponível em: https://esperancagarcia.org/a-carta/
  • FERREIRA, Ligia Fonseca. “Luiz Gama por Luiz Gama: carta a Lúcio de Mendonça”. In: Teresa. Revista de Literatura Brasileira, v.8 n.9, São Paulo, 2008.

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