Quem pode falar do Antropoceno?

Quem pode falar do Antropoceno?


Universidade Federal do Rio de Janeiro

O que é o Antropoceno? O que isso significa? Compreender o conceito do Antropoceno e seus debates nos diversos campos científicos não é uma tarefa fácil. Embora haja resistência por parte dos geólogos em reconhecer o termo que oficializa uma nova era geológica, as evidências da influência humana nas dinâmicas naturais do planeta, em diferentes escalas, não podem e não devem ser ignoradas. 

Para pensar sobre o que significa o Antropoceno é necessário, em primeiro plano, evidenciar as complexas relações que conformam a nossa sociedade, os ambientes em que vivemos, nossa economia, política e diversos outros aspectos que se inserem na lógica do capital. O artigo “Quem pode falar do Antropoceno?”, publicado em CH 416, pode ser uma bússola, indicando possíveis direções para uma melhor compreensão das temáticas que circundam o Antropoceno.

Possibilidades de abordagem:

  • Compreender a categoria “Antropoceno” e cartografar seus principais usos por diferentes áreas do conhecimento e grupos sociais;
  • Estabelecer as relações entre o Antropoceno e as mudanças climáticas;
  • Analisar como o Antropoceno se materializa nas transformações ocorridas no espaço geográfico brasileiro, especialmente nos últimos 40 anos;
  • Em diálogo com a obra de Krenak, propor ideias para adiar o fim do mundo e promover transformações nesta sociedade que vive em tempos de Antropoceno.

Proposta de atividade:

Esta atividade pode ser desenvolvida em sequência didática de 4 a 6 tempos de aula, em qualquer uma das três séries do Ensino Médio.  Sugere-se que a turma faça previamente a leitura do artigo e busque destacar no texto as diferentes concepções apresentadas sobre o Antropoceno. 

Em sala, num primeiro momento, indica-se apresentar à turma a famosa imagem do ministro de Tuvalu discursando com a água até os joelhos (disponível no box “Explore+”), com o intuito de ilustrar o impacto dramático das mudanças climáticas. Em seguida, a partir das percepções visuais, sugere-se questionar os estudantes sobre o que sabem sobre o Antropoceno e a relação entre as atividades humanas e os processos naturais. 

Após um momento de escuta de suas percepções, cabe sistematizar num cartaz ou no próprio quadro de giz – a partir do levantamento feito pela própria turma durante a leitura do texto – as diferentes concepções sobre o Antropoceno. Neste momento, cabe discutir como determinadas áreas/grupos se incorporaram do conceito enquanto outras demonstram resistência e negam sua utilização. Seria interessante problematizar juntamente aos estudantes como a resistência ao conceito pode em certa medida alimentar o negacionismo científico, especialmente sobre as mudanças climáticas. 

Outra discussão relevante passa pelo fato da mudança na intensidade, volume e nos modos de produção globais, especialmente a partir de 1950, e o quanto essa mudança impactou na emissão de gases, produção de resíduos e aumento do consumo – elementos que demarcam o início do Antropoceno e que reverberam na forma como as mudanças climáticas têm se materializado nos últimos anos. Por fim, é possível também enfatizar que, mesmo sem essa formalização, os impactos das ações humanas são visíveis e documentados em imagens.

Após a conclusão desta primeira etapa, com o foco na promoção de reflexões iniciais, sugere-se que a turma tenha enquanto tarefa de casa trazer uma notícia de jornal ou imagem que traduza o que é o Antropoceno e que estejam relacionadas com a imagem do ministro de Tuvalu apresentada no momento anterior. 

No segundo momento da atividade, a turma entregará as imagens e notícias levantadas que serão redistribuídas entre as/os estudantes – organizados em grupos (algumas sugestões estão disponíveis no box “Explore+”). Em seguida, é imprescindível que o docente oriente os grupos a respeito dos objetivos da atividade, estabelecendo como meta geral: identificar e registrar, a partir da observação das imagens e notícias, as mudanças visíveis, como desmatamento, expansão urbana, secas, enchentes, mudanças na vegetação etc. 

Indicamos realizar perguntas orientadoras da análise: 

  1. a) Onde e quando se passam as imagens/notícias analisadas pelo grupo? 
  2. b) Quais mudanças vocês identificaram nas imagens e notícias? 
  3. c) Quais atividades humanas podem ter causado essas mudanças? 
  4. d) Como essas transformações afetam a vida das pessoas e dos ecossistemas locais? 
  5. e) Como as escolhas individuais e coletivas contribuem para a intensificação dos eventos climáticos extremos? 
  6. f) De que forma as desigualdades raciais, de classe e de gênero/sexualidade se materializam nas imagens analisadas?
  7. g) Existem mudanças semelhantes no entorno da escola ou dos bairros onde vocês moram?

Em um terceiro momento, sugerimos que cada grupo apresente suas observações e anotações sobre a análise das imagens e notícias. Em seguida, sugere-se que a turma faça leitura de trechos do livro “Ideias para adiar o fim do mundo”, de Ailton Krenak, e que a turma pense, a partir do texto e das imagens analisadas, em propostas para adiar o fim do mundo. Por fim, seria interessante que a turma organizasse uma síntese da atividade em cartazes ou murais pelo ambiente escolar, destacando os principais aspectos observados assim como a importância de construir práticas que adiem o fim do mundo. 

É fundamental que cada grupo elabore legendas sucintas, indicando suas percepções referentes às mudanças na paisagem, os impactos ambientais, os agentes destes impactos, quais os contextos históricos e de que forma se percebem as desigualdades no seu sentido amplo, além de propor práticas coletivas e individuais alternativas para (tentar) adiar o Antropoceno.

Recursos utilizados:

  • Versão impressa ou disponibilizada digital do texto “Quem pode falar do Antropoceno?”, publicado em CH 416; 
  • Imagens, notícias de jornal, cartolina e outros materiais para confecção de cartazes;
  • Acesso à internet para consultar os materiais indicados no box “Explore+”.

Explore+

Ministro de Tuvalu grava discurso para COP 26 de dentro do mar em protesto contra risco de ilha desaparecer. Disponível em: https://g1.globo.com/meio-ambiente/cop-26/noticia/2021/11/06/ministro-de-tuvalu-grava-discurso-para-cop-26-de-dentro-do-mar-em-protesto-contra-risco-de-ilha-desaparecer.ghtml 

O que é Antropoceno? | TV Uerj Explica. Disponível em: https://youtu.be/XsEl0Xz5weE?si=l4FRLvar48KYOlkc 

O auê do Antropoceno e a importância de dar nome ao que estamos causando ao planeta. Disponível em: https://apublica.org/2024/03/o-aue-do-antropoceno-e-a-importancia-de-dar-nome-ao-que-estamos-causando-ao-planeta/ 

No combate ao Antropoceno, soluções estão nos mundos indígenas. Disponível em: https://jornal.usp.br/cultura/no-combate-ao-antropoceno-solucoes-estao-nos-mundos-indigenas/ 

Em 5 dias, volume de chuvas em Porto Alegre deve superar média de maio das últimas três décadas. Disponível em: https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2024/05/08/em-5-dias-volume-de-chuvas-em-porto-alegre-deve-superar-media-de-maio-das-ultimas-tres-decadas.ghtml 

Desmatamento no Matopiba já derrubou 494 mil hectares de Cerrado desde janeiro. Disponível em: https://ipam.org.br/desmatamento-no-matopiba-ja-derrubou-494-mil-hectares-de-cerrado-desde-janeiro/ 

Amazônia tem ar mais poluído do Brasil devido a queimadas recordes, diz IPAM. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/norte/amazonia-tem-ar-mais-poluido-do-brasil-devido-a-queimadas-recordes-diz-ipam/