Saliva viscosa pode ser sinal de mau hálito

 

O mau hálito pode ser provocado por diversos aspectos já conhecidos por especialistas. Um estudo inédito realizado por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) acaba de acrescentar um novo fator associado a esse problema, que os dentistas chamam de halitose: a saliva viscosa.
 
A pesquisa, concluída em março deste ano, teve a participação de 34 adultos de ambos os sexos, entre 20 e 70 anos, sem queixa específica de mau hálito. Escolhida de forma aleatória, a maioria não apresentava problemas de higiene bucal e foi submetida a diferentes testes. Entre os pacientes com saliva viscosa, 73% tinham mau hálito; entre aqueles sem viscosidade, o índice era de 57%.
 
“O resultado mostra que há uma maior chance de se encontrar um paciente com saliva viscosa e halitose do que um paciente com saliva viscosa e sem esse problema”, explica dentista Denise Falcão, autora do estudo. “Mas é importante frisar que a viscosidade da saliva não é um fator preditivo para o diagnóstico do mau hálito.”
 
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Dois métodos para a identificação do mau hálito: a avaliação sensorial feita pelo médico e o teste que mede a quantidade de enxofre no fluxo expiratório do paciente.

A saliva viscosa é caracterizada pela grande quantidade de mucina – sustância que favorece a fixação de bactérias, restos alimentares e células descamadas da boca. As bactérias, ao metabolizarem as células descamadas, que são ricas em aminoácidos com enxofre, liberam essa substância que provoca o mau hálito.

 
Para saber se a saliva é viscosa, a especialista sugere um simples teste. Ao colocar um pouco dela na palma da mão, o indivíduo deve pressionar com o dedo indicador da outra mão a saliva e depois afastar aos poucos. Se o “fio” formado por ela for maior que 4 centímetros, pode-se considerar que se trata de uma saliva viscosa. Uma maneira mais eficaz de verificação é realizada por meio de equipamentos específicos utilizados pelos dentistas, como o chamado Neva meter, ainda pouco comum no país .
 
Falcão explica que a alta viscosidade está relacionada ao consumo excessivo de proteínas e tabagismo, baixa ingestão de água, processos alérgicos, além de alterações hormonais. Até pessoas que têm uma pequena intolerância à lactose (ingrediente característico do leite animal ou derivados) podem apresentar uma alteração na saliva, que a deixa mais grossa. “Apenas um profissional bem treinado pode identificar as causas e os tratamentos adequados”, lembra a pesquisadora.
 
Entre as causas da halitose, estão fatores de origem bucal, como alterações dos padrões salivares, doenças gengivais, descamação excessiva das células epiteliais (maioria das ocorrências). Entretanto, a halitose pode se manifestar em decorrência de fatores fisiológicos como a menstruação, fatores psicossomáticos como ansiedade e depressão e, alterações patológicas de origem gástrica e até intestinal. Neste último caso, o mau hálito está associado a deficiências no processo digestivo, tanto para quem sofre de prisão de ventre quanto os que têm alergia à lactose: o enxofre presente nas fezes e nos gases, quando absorvido na corrente sangüínea, passa para o pulmão e é exalado com odor bem desagradável.
 
Durante os testes, a equipe verificou com ajuda de aparelhos a quantidade de enxofre presente no fluxo expiratório dos participantes e também a viscosidade da saliva. Um terceiro teste foi avaliado por meio do olfato humano, feito pela dentista, um assistente e um técnico em higiene bucal. “Esse foi um trabalho de pesquisa piloto”, conta Falcão. “Pretendemos ampliá-lo no próximo ano, em um estudo com 200 participantes.”
 
Segundo a dentista, a identificação do problema por seu portador não é uma tarefa fácil, porque o olfato humano se acostuma em poucos segundos com o próprio hálito. Mas ela recomenda algumas dicas para evitar esse mal: “beber pelo menos dois litros de água durante o dia, não permanecer longos períodos em jejum, comer alimentos ricos em fibras, como cereais, frutas e verduras cruas, pois ativam as glândulas salivares, além de favorecerem o bom funcionamento intestinal“, completa a pesquisadora.

Mário Cesar Filho
Ciência Hoje On-line
11/11/05