Saúde e beleza caminham juntas

Ícone da beleza feminina, o sapato de salto alto pode oferecer muito mais do que benefícios estéticos. Um estudo recente demonstrou que seu uso reduz a pressão nas veias das pernas, o que pode ajudar tanto no combate às varizes quanto na correção de problemas ortopédicos.

 

Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) mediram a pressão das veias das pernas de 25 mulheres enquanto elas andavam em uma esteira rolante, descalças e de salto alto. Todas usam salto no dia-a-dia, o que foi critério para a determinação das voluntárias. Cada uma escolheu os sapatos que utilizaria nos testes — em média, os saltos tinham 7 cm. Nenhuma tinha histórico de varizes, mas todas apresentavam algum tipo de problema ortopédico.

Um novo método de medida da pressão nas veias durante a marcha, desenvolvido por João Potério Filho, cirurgião vascular e professor da Unicamp, foi adotado. Diferente do procedimento tradicional, que media a pressão através de uma punção com agulha, esse método inovador utiliza apenas manguitos como os usados para avaliar a pressão arterial nos braços, mas de menor dimensão. Os dispositivos foram colocados em volta da perna da voluntária enquanto ela ainda estava deitada. Ao se levantar, o fluxo de sangue em sua perna aumentava e comprimia o manguito que, conectado a um computador, registrava a pressão das veias.

Durante uma caminhada, a pressão no interior das veias das pernas diminui porque os músculos, sobretudo as panturrilhas, ajudam a bombear o sangue de volta para o coração. Se esse processo falha, o sangue se acumula nas veias e, portanto, a pressão aumenta. Acreditava-se que o uso do salto alto diminuía a contração do músculo da panturrilha, o que poderia contribuir para o surgimento de varizes (veias cujas paredes se dilatam e perdem a elasticidade).

No entanto, os pesquisadores concluíram que o uso do salto melhora a contração muscular da perna e aumenta em 30% na média a eficiência do retorno do sangue para o coração. “Sem sapato, menos sangue era bombeado e a pressão da perna aumentava”, disse Potério. “Algumas voluntárias apresentaram uma diferença de pressão de até 100% enquanto andavam com o salto.”

Potério afirma que o problema das varizes é genético e atinge sobretudo mulheres. O salto melhora a eficiência de retorno do sangue para o coração pelas veias, que geralmente fica comprometida em pessoas com varizes. “Além disso — diz o médico –, esses sapatos corrigem defeitos ortopédicos como o pé chato, o joanete e o genuvalgo” (deformação da perna em que os joelhos ficam excessivamente aproximados e os tornozelos muito afastados).

Porém, não é possível determinar a altura ideal do sapato. “Saltos de 5 cm já trazem benefícios”, disse Potério. Segundo ele, duas voluntárias usaram salto de 10 cm e, mesmo assim, tiveram resultados positivos. “Grande parte dos médicos acha prejudicial o uso constante do salto alto, com exceção do cirurgião vascular e do ortopedista, que já sabiam do seu efeito terapêutico e receitam para as pacientes em alguns casos.”

Liza Albuquerque
Ciência Hoje On-line
01/10/03