Sedna: nos confins do Sistema Solar

Concebida primeiramente pelo astrônomo holandês Jan Hendrik Oort (1900-1993), a chamada Nuvem de Oort consiste num envoltório esférico situado nos limites do Sistema Solar. Nela, existem núcleos de cometas latentes: pedaços de gelo que, com a passagem de uma estrela, sofrem pertubação gravitacional e podem ser expulsos do Sistema Solar e vagar no espaço sem rumo ou ser jogados para dentro do Sistema Solar e acabar com órbitas se aproximando do Sol.

Prevê-se que a Nuvem de Oort se situe a algumas milhares unidades astronômicas do Sol (as unidades astronômicas — ou UA — equivalem à distância entre a Terra e o Sol, ou 150 milhões de km). Apesar de a Nuvem de Oort nunca ter sido visualizada, nenhum astrônomo contesta sua existência hoje.

 

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Nos confins do Sistema Solar
Anunciada a descoberta do planetóide Sedna, o mais distante objeto em órbita do Sol

Foi descoberto o mais frio e distante objeto em órbita ao redor do Sol. Três vezes mais distante da Terra do que Plutão, o astro possui cerca de 1700 km de diâmetro, mas, apesar de seu tamanho considerável, ele não pode ser considerado um planeta. Estima-se que a temperatura de sua superfície seja de -240º C e, por isso, ele foi batizado de Sedna, deusa dos oceanos de uma tribo esquimó.

Concepção artística de Sedna com o Sol ao fundo. O longo período de rotação do planetóide (40 dias) seria causado pelo efeito de uma lua, cuja existência poderá ser confirmada pelo telescópio Hubble

A descoberta foi feita por astrônomos do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), da Universidade Yale e do Observatório Gemini (os três nos EUA), financiados pela Nasa. Embora tenha sido anunciado em 15 de março, o objeto já havia sido detectado em novembro de 2003.

O maior objeto do Sistema Solar já identificado desde a descoberta de Plutão em 1930 está tão distante que, em sua superfície, seria possível bloquear a imagem do Sol com a cabeça de um alfinete. Por causa de sua órbita elíptica, a distância de Sedna em relação ao Sol varia entre 13 bilhões e 130 bilhões de quilômetros. Para completar uma volta em torno do Sol, Sedna demora 10,5 mil anos, enquanto Plutão, por exemplo, leva ‘apenas’ 248 anos. Só foi possível observá-lo porque ele está em sua fase mais próxima do Sol.

Sedna é um dos objetos mais vermelhos do Sistema Solar — só perde para Marte. Seu aspecto brilhante também chamou a atenção dos astrônomos responsáveis pela descoberta, que supõem que a superfície do astro seja composta de gelo ou metano congelado, assim como a de Plutão.

O diâmetro de Sedna é maior que o do planetóide Quaoar , o maior
objeto do Cinturão de Kuiper, e menor que o de Plutão, nono ‘planeta’ do Sistema Solar. Imagens: Nasa/JPL-Caltech/R. Hurt (SSC-Caltech)

Existe muita controvérsia quanto à classificação desse objeto. Muitos acreditam se tratar do décimo planeta do Sistema Solar. Porém, segundo a definição da equipe que o descobriu, Sedna não seria um planeta — e tampouco Plutão. Para esses astrônomos, um planeta seria qualquer corpo no Sistema Solar que fosse mais maciço que o total de massa de outros corpos em uma órbita de distância similar do Sol. Como Plutão está localizado numa faixa repleta de asteróides e outros corpos celestes chamada Cinturão de Kuiper, ele não teria mais massa que os demais juntos e, portanto, não seria um planeta.

Sedna pode ser o primeiro objeto identificado em uma região hipotética chamada Nuvem de Oort . Apesar de nunca ter sido observada, acredita-se que essa ‘nuvem’ seria uma espécie de reservatório de cometas. Certamente, Sedna não seria mais maciço que o restante dos corpos da Nuvem de Oort e, então, não pode ser considerado um planeta. É possível que o astro não seja sequer o maior corpo celeste dessa região, por isso é mais prudente classificá-lo como um planetóide.

Apesar da polêmica em torno da categorização de Sedna, Walter Maciel, astrofísico da Universidade de São Paulo, acredita que essa discussão é uma questão menor, meramente formal. “Objetos pequenos como esse devem existir aos milhares no Sistema Solar, mas geralmente são escuros e, por isso, não os detectamos, a menos que causem alguma perturbação gravitacional”, disse ele. “O mais importante seria encontrar planetas com condições similares às da Terra.” Atualmente, já se conhecem mais de 100 planetas fora do Sistema Solar , mas todos têm dimensões gigantescas, bem maiores que as do nosso planeta.