Seqüenciado genoma do macaco rhesus

 


O genoma do macaco rhesus ( Macaca mulatta ) tem 93% de similaridade com o humano e o dos chimpanzés, espécies das quais ele divergiu há 25 milhões de anos. (Foto: Southwest National Primate Research Center/Southwest Foundation for Biomedical Research).

O macaco rhesus ( Macaca mulatta ) é o terceiro primata, depois do homem ( Homo sapiens ) e do chimpanzé ( Pan troglodytes ), a ter seu genoma seqüenciado. Apesar de ter divergido dessas espécies há 25 milhões de anos, ele tem 93% do material genético em comum com elas. O feito, que levou nove meses e demandou o esforço conjunto de mais de 170 pesquisadores de 35 instituições internacionais, tem repercussões importantes na medicina e no entendimento da evolução dos primatas. Os resultados dos estudos serão publicados amanhã em uma seção especial da revista norte-americana Science .

Devido à similaridade fisiológica e neurobiológica, bem como à susceptibilidade a doenças infecciosas, o macaco rhesus tem sido usado como modelo para o estudo de patologias e características médicas humanas, como a Aids e o fator Rh (batizado com o nome do macaco) do sangue. “Agora que temos a ‘planta baixa’ dessa espécie, poderemos entender melhor os mecanismos básicos de seu organismo”, conta à CH On-line Richard A. Gibbs, coordenador do consórcio que seqüenciou e analisou o genoma.

Segundo ele, as informações obtidas tornarão mais precisas técnicas que dependem de seqüências genéticas, como chips de DNA e desenvolvimento de anticorpos. O estudo também detectou no M. mulatta um número maior de cópias de certas classes de genes associadas ao sistema imune. “Essa informação é significativa para o uso do rhesus como modelo das funções imunológicas humanas”, observa Gibbs.

Uma surpresa foi descobrir que algumas proteínas cuja mutação causa problemas graves em humanos (como a fenilcetonúria) estão presentes na forma mutante no rhesus – onde são o tipo selvagem (padrão) –, sem causar as mesmas doenças. “Embora os efeitos adversos possam ser compensados por outras mutações ou fatores ambientais, é possível também que o rhesus tenha um ‘ajuste metabólico’ diferente, ou seja, a necessidade dessas proteínas pode ser levemente diferente do que em humanos”, explica o coordenador.

O novo genoma servirá ainda para melhorar o entendimento da evolução dos primatas. Como humanos e chimpanzés são muito próximos evolutivamente, tendo divergido há ‘apenas’ seis milhões de anos, os pesquisadores têm dificuldade em distinguir genes que tenham sido conservados por vantagens evolutivas daqueles que são similares apenas pela proximidade biológica.

Com os novos dados, se uma característica estiver presente nos humanos, mas não nos chimpanzés, será possível determinar se ela é uma perda para estes – caso exista no rhesus – ou um ganho para os humanos – caso não exista. “Assim, podemos identificar mecanismos de mutação que foram importantes para delinear a biologia dessas três espécies nos últimos 25 milhões de anos”, informa Gibbs. Segundo ele, o consórcio já detectou mais de 200 genes que foram mantidos pela seleção natural. As próximas etapas do estudo devem envolver o seqüenciamento de outros primatas, como os orangotangos e os gibões. “Dessa maneira, descobriremos todos os genes envolvidos na evolução dos primatas”, conclui. 

Fred Furtado
Especial para a Ciência Hoje On-line 
12/04/2007