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Os traumas causados por malformações e acidentes que afetam o crânio são grandes. Além dos riscos para a saúde e do desconforto, a questão estética é uma dura realidade para as pessoas que se encontram nessa situação. Para enfrentar esse problema, pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) estudam a fabricação de uma inovadora prótese craniana resistente e personalizada.

A inovação está tanto na forma de fabricação quanto no material das próteses: o titânio

A inovação está tanto na forma de fabricação quanto no material das próteses: o titânio. Por meio de um moderno processo, o titânio é moldado para se encaixar na deformação craniana da forma correta. “O material é biocompatível, não é tóxico, não é corrosivo e tem ótima resistência”, aponta o engenheiro químico André Jardini, pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) em Biofabricação (Biofabris), na Unicamp. As próteses convencionais, feitas de acrílico, também são biocompatíveis, mas menos resistentes.

Para a confecção da prótese na medida certa, é preciso fazer uma análise apurada da anatomia do paciente. O primeiro passo é um exame de tomografia. “O tomógrafo tira fotografias em fatiamento do crânio”, explica Jardini. “Depois, as imagens são colocadas em um software para separar a estrutura óssea de outros tecidos”.

Tomografia computadorizada
Tomografia computadorizada do crânio do paciente tratada no programa InVesalius, desenvolvido pelos próprios pesquisadores. (foto: INCT-Biofabris)

O software, também desenvolvido pelo Biofabris, foi batizado de InVesalius. Ele é capaz de fornecer um modelo virtual tridimensional a partir das imagens de tomografia do crânio. Pela comparação com o lado preservado do crânio, os pesquisadores conseguem modelar digitalmente uma prótese adequada à anatomia do paciente.

Feito isso, moldes fiéis do crânio e da prótese são obtidos com o auxílio de uma impressora 3D. Eles servem de base para o planejamento cirúrgico e a confecção da prótese final de titânio.

A prótese é confeccionada por uma máquina de sintetização de metais a laser a partir de uma liga à base de titânio. O material é leve e resistente e já vem sendo usado em outras áreas médicas, como a odontologia.

Essa peça passa por um tratamento da sua superfície, limpeza e esterilização antes de ser cirurgicamente colocada no crânio do paciente. “Esse processo é inédito porque, com as próteses tradicionais, a moldagem é feita na hora da cirurgia pela mão do médico e diretamente na área afetada”, esclarece Jardini. A nova técnica, além de garantir um encaixe perfeito da prótese, diminui o tempo de cirurgia e, por consequência, os riscos de infecção.

Bons resultados

A grande vantagem da prótese estudada é a personalização. “Em alguns casos, se ocorre uma falha óssea muito extensa, as próteses tradicionais podem se soltar ou não cumprir a função adequadamente”, aponta Jardini. “Com a personalização, isso poderá ser controlado mais facilmente.”

Já foram realizadas três cirurgias com a prótese de titânio personalizada, todas com excelentes resultados

A prótese de titânio personalizada está em fase de testes no momento. Foram realizadas três cirurgias, todas com excelentes resultados, e mais doze intervenções estão planejadas.

Os pesquisadores já pensam no futuro. “Nosso objetivo é disponibilizar o projeto para o SUS, mas, devido à alta demanda, será preciso também criar uma indústria nacional de próteses personalizadas”, diz Jardini. O engenheiro químico estima que, quando produzida em larga escala, a nova prótese custará metade do preço das próteses tradicionais.

Isadora Vilardo
Ciência Hoje On-line