Tá quente ou tá frio?

 

Paciente testa o sistema de tato em sua prótese comercial.

Um aparelho capaz de transmitir informações sensoriais do meio externo através de próteses de membros superiores usadas por deficientes foi testado com sucesso por pesquisadores da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da Universidade de São Paulo (USP). O dispositivo, que faz parte do projeto Mão Artificial Brasileira, iniciado há seis anos, pode ser usado também em próteses de outras partes do corpo e em robôs. Além desse aparelho, a equipe está construindo um protótipo, que deverá ficar pronto até o final deste ano, de uma mão capaz de realizar 21 dos 23 principais movimentos.

O dispositivo sensorial foi desenvolvido na tese de doutorado do engenheiro mecânico Paulo Marcos de Aguiar, sob a coordenação do engenheiro mecânico Glauco Caurin, do Departamento de Engenharia Mecânica da EESC/USP. As informações do meio externo são obtidas por meio de sensores aplicados sobre a pele da prótese, que captam ‘sensações’ como temperatura, pressão e dor e as transmitem ao paciente através de estímulos elétricos ou vibratórios. “O aparelho é externo, como se fosse uma espécie de eletrodo colocado na pele, e não é necessário fazer cirurgia para utilizá-lo”, explica Caurin. “Com a prótese, o usuário pode ter uma avaliação mais apurada do ambiente. É o que chamamos de capacidade adicional ou realidade aumentada”, destaca.

Os testes foram realizados na Faculdade de Medicina da USP de São Paulo e na Escola de Engenharia de São Carlos com cinco deficientes, tanto amputados quanto congênitos, que já utilizam uma prótese comercial. “A reação à sensação foi quase imediata”, conta Aguiar. “No entanto, mesmo com os resultados positivos, ainda resta verificar o desempenho da prótese quando o paciente usar sua capacidade sensorial constantemente, já que até agora ela só foi testada durante pequenos intervalos de tempo.”

Para construir o protótipo da mão, a equipe usa um polímero à base de mamona, material desenvolvido pelo químico Gilberto Chierice, do Instituto de Química de São Carlos, também da USP. Ele é inspirado no esqueleto humano e funciona com cabos semelhantes aos tendões das mãos, o que permite a melhor movimentação dos dedos. Aguiar afirma que é preciso melhorar a qualidade das próteses atualmente disponíveis no mercado mundial, já que a maioria delas só é capaz de pinçar objetos e não manipulá-los. “Muitos deficientes não usam a prótese por achar que ela não traz muitos benefícios, já que só é capaz de realizar poucos movimentos”, completa.

Segundo Aguiar, o objetivo do projeto Mão Artificial Brasileira é conseguir que o Brasil desenvolva tecnologia de ponta na área para alcançar países como a Alemanha. A produção nacional tornaria mais acessível o preço das próteses, que hoje variam entre R$50 mil e R$70 mil por serem importadas.

Mariana Benjamin
Ciência Hoje On-line
06/11/2006