Tecnologia prevê distribuição de animais na natureza

 

Tecnologia prevê distribuição de animais na natureza Algumas áreas do mundo ainda são pouco exploradas, o que torna muito difícil conhecer — e conservar — sua biodiversidade. Mas a tecnologia pode ajudar a traçar um retrato da fauna que ocorre nessas regiões isoladas. Cientistas provaram que a combinação de dados de coleções de museus e imagens de satélites permite prever como espécies de animais se distribuem na natureza. Alimentado com essas informações, um modelo computacional foi capaz de localizar o hábitat natural de 18 espécies de camaleão que ocorrem em Madagascar. O mais surpreendente é que sete eram desconhecidas pelo homem até então.

null

Entre as 18 espécies de camaleão que tiveram sua distribuição prevista por um modelo computacional, está a Calumma parsonii

Publicada na revista Nature de 18 de dezembro de 2003, a pesquisa é uma parceria entre a agência espacial norte-americana (Nasa) e o Museu Norte-americano de História Natural (AMNH). O estudo fez uso de um software criado especificamente para esse fim. Ao associar dados sobre a topografia, clima e vegetação da ilha e sobre as espécies de camaleão, foram obtidos modelos da distribuição de espécies com um grau de precisão quase tão alto quanto de pesquisas de campo (82,8% contra 85,1%).

Para cada uma das 11 espécies de camaleão anteriormente conhecidas em Madagascar, foi criado um modelo no computador que representasse sua distribuição na ilha. Os cientistas se surpreenderam ao constatar, no caso de quatro espécies, que o modelo previa sua ocorrência em locais isolados da ilha que não eram considerados como seus hábitats naturais. Eles resolveram então consultar dados colhidos em campo nessas regiões, e descobriram sete novas espécies de camaleão, que só existem ali.

A escolha de Madagascar como local do estudo foi feita não só com base no seu grande número de espécies de anfíbios e répteis, mas também devido à política ambiental da ilha. Recentemente o seu governo anunciou planos de expandir as áreas de proteção ambiental, uma grande oportunidade para incluir áreas antes ignoradas e conservar espécies excluídas das reservas já existentes.

Conhecer a biodiversidade de uma região é fundamental para estabelecer tais políticas de conservação ambiental, mas conseguir essas informações leva anos de pesquisas de campo. Segundo Christopher Raxworthy, biólogo do AMNH e coordenador do estudo, esse tempo é precioso diante da velocidade com que o homem vem degradando a natureza e essa tecnologia pode ser usada como uma alternativa para acelerar o processo. “É excitante a sua capacidade de prever áreas com potencial para novas espécies. Isso nos permite criar estratégias de conservação mais eficazes.”

Rafael Barifouse
Ciência Hoje On-line
29/01/04