Radiotelescópio Dasi, localizado no Pólo Sul, com o qual foi medida a polarização da radiação cósmica de fundo (foto: Erik Leitch)
Um dos pais da teoria do Big Bang , o físico russo naturalizado norte-americano George Gamow (1904-1968), previu que o universo jovem era muito quente e emitia luz. Essa luminosidade — a radiação cósmica de fundo (RCF) — poderia ser detectada hoje na forma de microondas e representaria uma ‘foto’ de quando o universo tinha ‘apenas’ 400 mil anos de idade. “Nós vemos essa luz primordial como microondas por causa do efeito Doppler, que a desloca em direção a menores comprimentos de onda”, explica o físico Martín Makler, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
A confirmação desse fenômeno ocorreu por acaso, em 1965, quando o físico alemão naturalizado norte-americano Arno Penzias e o radioastrônomo norte-americano Robert Woodrow Wilson tentavam construir uma antena, mas não conseguiam eliminar o ruído captado por ela, que era em parte provocado pela RCF. Esse acontecimento é considerado um dos mais importantes da história da cosmologia. Nos últimos 35 anos, mais duas previsões sobre a RCF foram confirmadas, o que ajudou a validar a teoria do Big Bang. A medição dos pesquisadores de Chicago pode ser considerada a quarta importante descoberta associada à RCF, que vem reforçar o modelo do Big Bang.
Mapa da intensidade e polarização da RCF. As cores indicam variações
de temperatura; o comprimento das linhas, a intensidade, e a orientação das mesmas, a direção da polarização. (gráfico: Dasi)
Para medir a polarização, os pesquisadores utilizaram um radiotelescópio localizado no Pólo Sul e observaram dois pontos distintos do céu por mais de 200 dias. Os resultados, além do valor científico, representam um grande avanço técnico, já que o efeito é muito tênue.
No futuro, o feito permitirá calcular a quantidade de matéria visível no universo e, conseqüentemente, fornecerá dados sobre a matéria e energia escuras, que, acredita-se, compõem cerca de 95% do cosmo. A polarização também pode ser usada para que se tente detectar, mesmo que indiretamente, as ondas gravitacionais — perturbações geradas nos momentos iniciais da criação do universo e que poderiam fornecer mais dados sobre essa época.
Fred Furtado
Ciência Hoje on-line
18/12/02
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