Curiosa descoberta. Informações preciosas sobre a qualidade dos oceanos podem ser aferidas a partir de um indicador nada ortodoxo: a cera de ouvido de uma baleia. O material já vinha sendo bastante usado por biólogos e toxicologistas em diversas pesquisas ao longo dos últimos tempos.
“A cera tem sido usada há décadas para aferir a idade das baleias”, diz o biólogo Stephen Trumble, da Universidade de Baylor (EUA). Quanto mais camadas acumuladas na secreção, mais velho será o animal. O método, na verdade, lembra aquele usado por botânicos para medir a idade das árvores – com base nos anéis de crescimento, visíveis quando se faz um corte transversal em um tronco.
Em parceria com o químico Sascha Usenko, da mesma universidade, Trumble estudou uma baleia-azul (Balaenoptera musculus) que fora encontrada em uma praia da Califórnia em 2007. O animal, que tinha cerca de 12 anos, morrera em uma colisão com um navio. E seu corpo – incluindo a cera de ouvido – estava preservado no Museu de História Natural de Santa Bárbara (EUA).
Após ter acesso às amostras, a dupla de pesquisadores percebeu que, além de informações acerca da idade do animal, a cera de ouvido pode fornecer dados sobre as substâncias químicas às quais a baleia esteve exposta ao longo de sua vida. O método é interessante, mas as notícias não foram boas.
Mares contaminados
Na secreção analisada, foram encontrados vestígios de 16 pesticidas – prova inequívoca de que os oceanos estão cada vez mais poluídos. Encontraram até DDT – o perigoso inseticida já proibido em vários países. Além disso, os cientistas verificaram a presença de mercúrio acumulado na cera de ouvido da baleia-azul estudada.
O estudo, publicado na PNAS, foi feito com uma única baleia. Portanto, cientistas ainda não têm um banco de dados sólidos com informações coletadas a partir desse método. No entanto, o grande mérito do trabalho parece ser a confirmação de que essa metodologia, de fato, é eficaz para se estudar a biologia das baleias e as pressões antrópicas a que nossos mares estão expostos.
“Foi uma metodologia muito eficaz para averiguar as substâncias químicas a que uma baleia é exposta durante todo o seu período de vida”, diz Trumble. “Pelos métodos tradicionais, teríamos de coletar amostras a cada seis meses, de um mesmo animal, ao longo de toda a sua vida; isso é praticamente impossível do ponto de vista logístico e econômico.”
Nossos oceanos estão cada vez mais poluídos. Com as chuvas, boa parte da poluição antrópica sobre os continentes pode acabar nos mares.
“Baleias são animais tão majestosos e impressionantes, e, quando poluímos os oceanos, nós as prejudicamos diretamente”, disse à CH On-line o toxicologista John Wise, da Universidade de Southern Maine (EUA). “Estudando a cera de ouvido das baleias poderemos descobrir novos caminhos para tornar os mares mais limpos e mais seguros para os animais.”
Henrique Kugler
Ciência Hoje On-line