Tratamento alternativo para o mal de Parkinson

Um estudo feito por pesquisadores da Universidade Duke, nos Estados Unidos, pode dar origem a um novo método para tratar o mal de Parkinson. A estimulação elétrica da medula espinhal foi capaz de restabelecer quase instantaneamente a habilidade motora de roedores com sintomas semelhantes aos dessa doença. A técnica poderá se tornar uma alternativa menos invasiva à estimulação do cérebro dos pacientes, adotada como complemento ao uso de medicação.

O ator canadense Michael J. Fox, famoso por seu papel na trilogia De volta para o futuro, é portador da doença de Parkinson, que causa diversos prejuízos à habilidade motora, como tremor, rigidez e lentidão nos movimentos (foto: Alan Light).

A doença de Parkinson caracteriza-se pela degeneração e morte dos neurônios produtores de dopamina (neurotransmissor que estimula o sistema nervoso central), o que provoca diversos prejuízos à habilidade motora, como tremor, rigidez, lentidão de movimentos e imobilidade.

Embora não haja cura para a doença, seus sintomas podem ser continuamente tratados com o uso de drogas que repõem a dopamina. Mas essa terapia é menos efetiva em longo prazo. Em alguns casos, o tratamento pode ser complementado com a estimulação elétrica do cérebro, feita por meio da inserção de eletrodos em regiões específicas do órgão.

A ideia de aplicar estímulos elétricos à medula espinhal para tratar os sintomas da doença surgiu a partir de pesquisas anteriores sobre epilepsia feitas pelo neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, líder da equipe da Universidade Duke e pesquisador do Instituto Internacional de Neurociências de Natal. Os resultados mostraram que a estimulação do sistema nervoso periférico facilita a comunicação entre o corpo e a medula espinhal e reduz os ataques epiléticos, cujas oscilações neurais se assemelham à atividade cerebral de portadores de Parkinson.

Para avaliar a eficácia do novo tratamento, pequenos eletrodos – conectados a um gerador portátil capaz de produzir uma corrente elétrica suave – foram implantados sobre a superfície da medula espinhal de ratos e camundongos. Os roedores usados no estudo tinham deficiência de dopamina, de forma a simular as características biológicas e os prejuízos na habilidade motora observados em pacientes com doença de Parkinson em estágios avançados. Os pesquisadores usaram vários níveis de estimulação elétrica combinados com diferentes doses de terapia de reposição de dopamina.

Recuperação imediata
“Vemos uma mudança quase imediata na habilidade funcional dos animais quando o dispositivo estimula a medula espinhal”, diz Nicolelis em comunicado à imprensa. Cerca de 3 segundos após a estimulação, os movimentos difíceis e vagarosos dos animais com deficiência de dopamina foram substituídos por comportamentos ativos típicos de animais saudáveis.

Os resultados do estudo, publicados com destaque na Science desta semana, mostram que a atividade locomotora dos animais durante o período de estimulação foi, em média, mais de 26 vezes maior do que durante os cinco minutos anteriores ao estímulo. Quando combinada com o uso de medicação, a estimulação elétrica reduziu a quantidade necessária da droga: os movimentos se restabeleceram com apenas um quinto da dose empregada no tratamento farmacológico isolado.

O primeiro autor do estudo, Romulo Fuentes, explica que a atividade cerebral de pacientes com doença de Parkinson é sincronizada em uma frequência muito baixa. “Isso significa que os neurônios são impostos a um ritmo vagaroso aparentemente incompatível com a iniciação do movimento”, diz à CH On-line.

Segundo Fuentes, em um cérebro saudável, os neurônios apresentam uma atividade rítmica de alta frequência antes e durante o movimento. “Observamos que a estimulação da coluna dorsal é capaz de induzir no cérebro tal atividade de alta frequência, criando, assim, o estado cerebral apropriado para iniciar o movimento”, completa.

A equipe agora pretende avaliar os efeitos colaterais do uso de longa duração do novo método e testar seu desempenho em primatas com doença de Parkinson. “Se pudermos demonstrar que o dispositivo é seguro e eficaz em longo prazo em primatas e, depois, em humanos, virtualmente todos os pacientes poderiam ser elegíveis para esse tratamento em um futuro próximo”, prevê Nicolelis.

Thaís Fernandes
Ciência Hoje On-line
19/03/2009