Tratamento inovador para a epilepsia

O transplante de células-tronco da medula óssea pode ser uma ótima alternativa para o tratamento de pacientes com epilepsia. Em testes com camundongos, pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) da Bahia verificaram que essas células, quando injetadas na corrente sanguínea, conseguem migrar para o cérebro, diferenciar-se e liberar substâncias capazes de regenerar as células afetadas nas crises epilépticas (neurônios e células da glia).

Córtex cerebral de animal epiléptico no qual se identificam células-
tronco fluorescentes (verdes) originárias da medula óssea

Os pesquisadores trabalharam com células-tronco da medula de um camundongo transgênico — que, por serem fluorescentes (verdes), permitem que se rastreie facilmente o caminho percorrido por elas. Essas células foram injetadas na veia de um animal sadio, no qual a epilepsia foi induzida em seguida. Depois de 24 horas da crise aguda, os pesquisadores observaram que grande parte das células da medula óssea havia migrado para o cérebro.

“Pela morfologia da célula, pudemos perceber que as células-tronco se diferenciaram em neurônios e células da glia”, conta Beatriz Monteiro Longo, responsável pelo projeto. “Mas ainda temos que confirmar com marcadores específicos que tipos de células do sistema nervoso foram formadas.”

 

Em verde, célula-tronco da medula óssea no córtex cerebral de uma cobaia. Seu aspecto indica que ela se diferenciou em célula da glia

Os cientistas induziram nos animais a epilepsia do lobo-temporal. Os portadores dessa doença têm uma primeira crise convulsiva forte ( status epilepticus ) que pode ter várias causas como traumatismo craniano, convulsão febril ou tumor cerebral. Após alguns anos o paciente passa a ter crises recorrentes e espontâneas, caracterizadas pela hiperatividade dos circuitos cerebrais que envolvem os neurônios e as células da glia. “As células da glia são, entre outras coisas, responsáveis por remover restos celulares de tecido lesado ou células mortas e constituir a barreira que impede a entrada de substâncias tóxicas no cérebro”, explica Longo.

 

A epilepsia atinge cerca de 2,5 milhões de pessoas no Brasil. Os pacientes precisam tomar medicamentos caros e muitas vezes desistem do tratamento. Embora indicada em alguns casos, a cirurgia é complicada e pode deixar seqüelas.

Um tratamento com células-tronco contra o mal de Chagas desenvolvido na Fiocruz/BA já está na fase final de teste em humanos. Estudos anteriores comprovaram que as células-tronco vão para vários órgãos, mas se dirigem sobretudo para o coração e recuperam o tecido lesado. “Na fase aguda, essas células são atraídas para os órgãos afetados”, afirma Longo.

No caso da epilepsia, o próximo passo é verificar se as células-tronco também migram para o cérebro na fase crônica da doença para saber qual seria a fase ideal de tratamento. Os cientistas pretendem ainda investigar se elas são capazes de bloquear ou diminuir a freqüência das crises.

Caso as experiências com camundongos e ratos apresentem resultados positivos, os testes com humanos podem começar dentro de cinco anos. A expectativa é que esse tipo de tratamento possa ser aplicado em outras doenças do sistema nervoso. O projeto é apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb).

Eliana Pegorim
Ciência Hoje On-line
13/09/04