Troca-troca cultural

 



Cenário do talk-show Cobras e Lagartos em estúdio da UFPR-TV (foto: Célio Yano).

Pode parecer ousado, mas é simples. Um sistema de recepção e distribuição de programas televisivos do qual podem participar todas as TVs universitárias do país está sendo articulado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), com o apoio da Universidade Federal Fluminense (UFF). A idéia é que o material audiovisual trafegue através da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), um emaranhado de fibras ópticas que interliga todos os estados brasileiros por via digital, transmitindo dados a elevadas taxas de velocidade.

Desde 1997 a Associação Brasileira de Televisão Universitária (ABTU) estuda a viabilização de uma rede cooperativa para troca de programas entre as universidades. Propostas de distribuição de material por sinal de satélite ou através de cópias de fita foram apresentadas, mas a Rede de Intercâmbio de Televisão Universitária (Ritu) não sai do papel principalmente por impasses de ordem financeira.

O objetivo da Ritu é resolver o entrave que limita a qualidade técnica das produções universitárias para TV. Como a verba destinada às instituições não permite investimentos em produção e transmissão nos padrões de emissoras comerciais, seus dirigentes dividem os recursos entre as duas etapas. “Isso prejudica a qualidade final dos programas, e a quantidade de material inédito veiculado diariamente pelos canais universitários fica limitada”, constata o jornalista Carlos Rocha, um dos fundadores da TV UFPR e idealizador do projeto que utiliza o meio digital para troca de material.

“Compartilhar programas entre as diversas TVs universitárias brasileiras permite investir na qualidade das produções e não apenas na quantidade”, diz Rocha. “Mas é inviável fazer cópias por meio analógico”, completa. Um programa em fita poderia interessar a duas dezenas de TVs, e o processo de cópia, nesse caso, levaria horas para ser feito. A alternativa ainda exigiria alto investimento em material e taxas de postagem, além de levar ao menos um dia para ser enviado de um estado para outro.

A forma de interligação de TVs universitárias defendida pela Ritu é por sinal de satélite. Mas os custos aumentariam ainda mais e as possibilidades de uso da banda não seriam ideais para o propósito inicial. “Como o tráfego fica limitado a um programa por vez, mesmo que as trocas se dêem nos horários em que as TVs estão fora do ar, quem decidirá o que tem prioridade para ser distribuído?”, questiona Rocha. A outra alternativa seria repetir a grade de programação em todos os estados. “De um jeito ou de outro, a idéia de uma rede de cooperação descentralizada iria por água abaixo.”

Com o uso de servidores e a disponibilização de arquivos em meio digital como propõe Rocha, não há esse problema: cada instituição decide que programa irá distribuir e qual deseja receber. O vídeo ficará disponível por um período que variará segundo a validade das informações da produção. Um servidor de 250 gigabytes (GB), considerado de pequeno porte, chega a armazenar até 300 programas de 30 minutos em formato SVCD ( Super Video CD ) ou MPEG4. “Hoje, com a tecnologia de compressão de arquivo de vídeo adequada, é possível gravar um programa de meia hora em um CD quase sem perda de qualidade”, diz Rocha. O algoritmo de compactação deverá ser o mesmo já usado nos sistemas de TV digital.

Permuta de programas
A troca de arquivos de vídeo entre universidades pela RNP será feita através de P2P (tipo de software que liga diretamente dois computadores, sem necessidade de um servidor intermediário). A UFPR ficará responsável por produzir relatórios periódicos sobre o intercâmbio de programas para estudar formas de melhorar o sistema. Rocha deixa claro que, como gerente da rede, a UFPR não irá interferir na permuta e conteúdo de programas.

O software P2P e o algoritmo usado para compressão dos arquivos de vídeo deverão ser de código aberto e, como a rede de tráfego de dados já está instituída, não haverá custo de implementação. “Cada universidade precisará de três computadores no máximo”, diz Rocha. “Um para receber os programas das demais TVs, outro para converter os programas para o formato padrão, e o terceiro para armazenar os arquivos.” O custo de implantação desses equipamentos é de aproximadamente 20 mil reais por instituição. Mas as universidades poderão gastar muito pouco no início, apenas instalando os programas em um computador pessoal com gravador de CD.

Embora a adoção do projeto pelos coordenadores de TVs universitárias públicas ainda esteja em discussão, a previsão é de que os testes decisivos para sua implantação se dêem ainda este ano, sob responsabilidade de Rocha e Hugo Magalhães, da UFPR, e de Lúcio Abbondati Jr., da UFF. A universidade paranaense se compromete a ajudar outras instituições a implantar o sistema de permuta de programas. A UnB e a UFMG também deverão integrar a rede na fase de testes. Rocha acredita que o baixo custo e a rápida evolução das tecnologias digitais deverão facilitar ainda mais a utilização do sistema proposto. “Com o passar do tempo, até mesmo as TVs universitárias de instituições privadas tenderão a acatar a proposta”, prevê. 

Célio Yano
Especial para a CH On-line / PR
06/07/2006