Uma escola à parte

 

Crianças visitam o Museu do Homem Americano, na Serra da Capivara, no Piauí (foto: Fumdham)

 

Divulgar a ciência e complementar a educação estão entre as principais missões dos museus e centros de ciência. No entanto, é cada vez mais comum nessas instituições a realização de projetos para promover a inclusão social e atender às necessidades da população ao seu redor. Bons exemplos dessa tendência são iniciativas promovidas na Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham), no Piauí, e do Museu da Vida, no Rio de Janeiro.

 

A 530 km de Teresina, capital do Piauí, está o Parque Nacional da Serra da Capivara, que concentra mais de 750 sítios arqueológicos, a maioria repleta de pinturas rupestres que formam um dos maiores acervos do mundo. Em 1986, a Fumdham foi criada por pesquisadores brasileiros e franceses com o objetivo de apresentar à sociedade resultados das pesquisas que arqueólogos e outros especialistas desenvolvem na área desde 1970. Além disso, contribui para a defesa dos patrimônios natural e cultural do Parque e o desenvolvimento de estratégias para a criação de um turismo consciente e gerador de renda para a população local.

 

O Museu do Homem Americano foi idealizado como um centro educativo-cultural. “Hoje, o Museu é o mais completo e moderno da América do Sul na sua especialidade”, orgulha-se a arqueóloga Niède Guidon, diretora-presidente da Fumdham. O acervo inclui, além de ossos e materiais usados pelo homem pré-histórico, esqueletos de animais hoje extintos, como tigres dentes-de-sabre e preguiças gigantes.

 

A atuação social da Fumdham é marcada pela oferta de cursos gratuitos à comunidade para a formação de guias e técnicos de laboratório e restauração de cerâmicas. As atividades fazem parte da conscientização dos moradores de que o Museu pode ser um projeto benéfico para a vida deles. O resultado é que, hoje, a equipe da Fundham é constituída, na maior parte, por pesquisadores e técnicos locais e a Fundação promove, ainda, atividades culturais e educativas.

 

Os atrativos científicos e culturais atraem profissionais do mundo inteiro: “acho que a maior contribuição que demos às comunidades locais foi possibilitar o intercâmbio com o resto do mundo”, aposta Guidon. “Eles se fizeram conhecer, mas conheceram também outros povos e outras maneiras de viver, o que lhes abre novos horizontes.”

 

Monitores do Museu da VIda conversam com visitantes (foto: Museu da Vida)

A qualificação de pessoal é também uma das atividades do Museu da Vida, inaugurado em 1999 pela Fundação Oswaldo Cruz com o objetivo de divulgar a ciência. Seu principal projeto de inclusão social é o Curso de Formação de Monitores para Museus e Centros de Ciência, voltado aos jovens de 16 a 21 anos alunos da rede pública e moradores de comunidades pobres da região. Os novos monitores auxiliam o passeio dos 55 mil visitantes anuais recebidos pelo Museu, sobretudo crianças e estudantes.

 

“Buscamos sempre partir da realidade dos nossos alunos, aproximando a ciência do cotidiano”, conta Isabel Aparecida Mendes, coordenadora do curso. “Trata-se da aplicação dos conteúdos de educação não formal em ciências, na qual os jovens participam da construção do conhecimento. Nosso objetivo é despertar neles perspectivas profissionais ligadas à apropriação da ciência como ferramenta para a cidadania.” Segundo os organizadores, o curso contribui para ampliar os horizontes culturais dos alunos, na medida em que desmistifica conteúdos relacionados a disciplinas como biologia, história, e física.

Catarina Chagas
Especial para a CH On-line
16/05/05