Uma observação de peso para a tabela periódica

O hássio, elemento químico artificial de símbolo Hs e número atômico 108, não está presente na crosta terrestre, não tem cor definida e, por ser extremamente instável, é quase impossível de ser estudado. Na época da sua descoberta, em 1984, esse metal pesado foi obtido em laboratório com uma meia-vida de apenas 1,5 milissegundo — período demasiadamente curto para que fosse usado em qualquer experimento. Recentemente, um grupo de pesquisadores coordenados pelo químico Christoph Düllmann, da Universidade de Berna (Suíça), desenvolveu uma técnica capaz de obter átomos de hássio mais facilmente observáveis. O feito foi descrito em 22 de agosto na revista Nature .

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Descoberto em 1984, o hássio (Hs) é o elemento mais pesado cujas propriedades químicas foram estudadas

Os cientistas obtiveram artificialmente sete átomos desse metal com uma meia-vida de dez segundos. Com isso, o hássio se torna o elemento mais pesado cujas propriedades químicas foram estudadas. O grupo responsável pela proeza foi o mesmo que descobriu o elemento há dezoito anos, no centro de pesquisa de íons pesados GSI, situado no estado de Hesse, na Alemanha (vem daí o nome hássio).

Na época em que foi descoberto, o hássio foi obtido a partir da fusão de átomos de ferro e chumbo, de número atômico 26 e 82. No entanto, os pesquisadores precisaram esperar doze anos até que obtivessem uma forma mais estável desse elemento. Em 1996, enquanto tentava sintetizar o unúmbio (um outro elemento superpesado, de número atômico 112), o grupo do GSI descobriu um isótopo de hássio, com meia-vida de nove segundos. Ao reagir com o oxigênio, o isótopo formou o gás HsO4, e comportou-se como os outros membros da mesma coluna da tabela periódica (como ósmio e rutênio). Para produzir um isótopo mais estável ainda, os pesquisadores fundiram átomos de magnésio e cúrio (de número atômico 12 e 96).

Por causa de suas propriedades intrínsecas, nem todos os elementos pesados se comportam da maneira apresentada pelo hássio. Nos elementos químicos que possuem núcleos muito grandes, os elétrons em órbita muito próxima do núcleo se movem tão rapidamente que o comportamento dos átomos fica à beira do caos. Nesses casos, somente a teoria da relatividade pode explicar seu comportamento, o que dificulta o estudo desses superelementos.

“Elementos mais pesados que o urânio têm que ser criados artificialmente, geralmente a partir do ’bombardeio’ de um alvo estacionário por um feixe de íons”, explica Kendall Powell, que comentou o experimento na Nature . “Poucas colisões resultam na criação do elemento desejado, e por isso o processo é muito lento. E os elementos pesados tendem a não ser estáveis — muitos deles decaem em elementos mais leves em segundos.” Por isso, poucos novos elementos foram acrescidos à tabela periódica desde os anos 1940 — o mais pesado já incorporado é o unúmbio.

Daniela Carvalho 
Ciência Hoje On-line
06/09/02