Uma pitada de imaginação para divulgar ciência

A linguagem superespecializada e procedimentos rigorosos adotados pelos pesquisadores tendem a afastar a ciência das pessoas. No entanto, ela é um produto social como outro qualquer. Para diminuir esse abismo artificial entre ciência e sociedade, a física mexicana Ana María Sánchez Mora propõe em seu livro A divulgação da ciência como literatura unir conhecimento científico e imaginação a fim de tornar público tudo aquilo que é desenvolvido pela ciência.

No começo do livro, a autora, que trabalha num órgão de divulgação científica ligado à Universidade Autônoma do México, traça um histórico da difusão da ciência. A necessidade da disseminação do conhecimento nasce no século 17, junto com a ciência moderna. Até então, a filosofia natural e o discurso científico eram mais integrados à cultura geral. Gradualmente, os cientistas se afastaram da sociedade e a ciência, graças ao acentuado grau de abstração adquirido, se tornou assunto de especialistas.

Para a autora, é nesse momento que a divulgação da ciência ganha um contorno diferente da atividade científica, pois passa a ser necessário um esforço adicional para se comunicar. No entanto, assim como não existe uma ‘receita’ específica para se pintar um quadro ou escrever um romance, a autora não tira da manga um método infalível que ensine como fazer divulgação científica, mas acredita que uma pitada de poesia pode garantir o sucesso do texto de divulgação.

Para que o processo de distanciamento da ciência por parte do público leigo se reverta, Mora propõe uma reintegração da cultura científica à convivência social por meio de um tratamento literário dos textos de divulgação. A autora acredita que a concepção de divulgação científica como literatura garante a aceitação e permanência do conhecimento que se quer transmitir.

O livro, que faz parte da série Terra Incógnita , contém trechos de diversos textos considerados clássicos da divulgação científica, como citações da edição de 1916 d’ A teoria da relatividade especial e geral , escrito pelo gênio da física Albert Einstein para explicar suas idéias ao leigo. A maior parte desses textos é feita por cientistas renomados, como o paleontólogo Stephen Jay Gould e o astrônomo Carl Sagan.

A autora deixa claro que os melhores divulgadores de ciência seriam os próprios cientistas, por terem um conhecimento mais profundo da área. Ela propõe que os pesquisadores recriem o conhecimento científico por meio da inserção do literário para que a divulgação seja mais eficaz.

O livro ressalta a importância da divulgação científica tanto para o progresso científico quanto para o esclarecimento da população. Essa reflexão sobre a produção da ciência e sua disseminação interessa tanto aos pesquisadores quanto aos divulgadores e historiadores que trabalhem nessa área.

 

A divulgação da ciência como literatura
Ana María Sánchez Mora (trad.: Silvia Pérez Amato)
Rio de Janeiro, 2003, Casa da Ciência / Editora UFRJ
Telefone: (21) 2542-7646 / 2295-0346
115 páginas – R$ 20,00

Liza Albuquerque
Ciência Hoje On-line
26/04/04