Variação surpreendente

Uma flutuação importante na superfície total de folhas da Amazônia ao longo do ano foi identificada por pesquisadores norte-americanos. Dados colhidos por satélite mostram que, na seca, quando a radiação solar é mais intensa, a área total de folhas é 25% maior do que durante a estação chuvosa, quando há mais nuvens e uma menor incidência do Sol. Essa variação sazonal tem um papel determinante no clima local, pois as folhas regulam as trocas de carbono e água entre a floresta e a atmosfera.

O mapa representa a amplitude das variações sazonais do índice de área foliar na Amazônia. Os trechos em verde escuro são aqueles em que a variação sazonal foi maior (imagem: Boston University/Nasa/PNAS).

O estudo mediu a evolução ao longo do ano do chamado índice de área foliar na Amazônia. Esse índice estabelece a relação entre a superfície ocupada por folhas e a área de solo ocupada pela floresta. Os dados foram colhidos pelo satélite Terra, da agência espacial norte-americana (Nasa), entre 2000 e 2005.

“O satélite mede a radiação solar refletida pelas folhas verdes nas árvores e abaixo delas”, explica à CH On-line o biólogo Ranga Myneni, da Universidade de Boston, autor principal do estudo publicado esta semana pela revista PNAS . “Usamos um modelo físico-matemático da interação da radiação solar com as folhas verdes para estimar a área das folhas.”

Uma variação sazonal de 25% na área foliar total foi identificada em cerca de 60% da Amazônia. As flutuações coincidem com a evolução ao longo do ano da incidência da radiação solar e das precipitações na Amazônia. O resultado é coerente com a hipótese segundo a qual, em florestas tropicais úmidas, o aumento da radiação solar na seca intensifica a produção de novas folhas. Nessa estação, há uma maior queda de folhas velhas, que são substituídas por um grande número de folhas novas, mais eficientes para fazer a fotossíntese.

Amplitude inesperada
A variação ao longo do ano na área total de folhas na Amazônia era prevista, mas nunca havia sido medida antes – e a amplitude do fenômeno chamou a atenção dos pesquisadores. “Esperávamos encontrar alguma variação sazonal na área de folhas, mas uma diferença tão grande foi surpreendente”, conta Myneni. “Isso confirma que a floresta é realmente limitada pela luz e pela água.”

A hipótese foi ratificada ainda por medições na área total de folhas do cerrado, na fronteira com a Amazônia. Nesse bioma, foi constatado o fenômeno inverso: a área de folhas diminui na seca e aumenta na estação chuvosa. “Savanas [como o cerrado] são realmente dependentes de água”, explica Myneni. “Na seca, diante da limitação desse recurso, a área de folhas diminui. Na estação chuvosa, ela aumenta, devido à abundância de água.”

As variações sazonais na área total de folhas têm um papel importante na regulação do clima local. Segundo os autores, o aumento dessa área na seca poderia atuar como um elemento desencadeador do início da estação chuvosa. “Com uma maior área de folhas, as árvores são capazes de evaporar mais água para a atmosfera”, explica Myneni. “Isso aumenta a convecção atmosférica e, portanto, a precipitação.”

Bernardo Esteves
Ciência Hoje On-line
13/03/2007