Vem aí o Ano do Pulmão

Começa em janeiro próximo o Ano do Pulmão. Estimular a pesquisa, a inovação tecnológica e a promoção da saúde respiratória são os objetivos dessa campanha, lançada no início do mês durante a 40ª Conferência sobre Saúde Pulmonar. O evento foi promovido pela União Internacional contra Tuberculose e Doenças Pulmonares (The Union) e reuniu pesquisadores do mundo inteiro em Cancún, no México.

No lançamento, o presidente de The Union, Bertel Squire, apontou que, como muitas doenças pulmonares atingem sobretudo as camadas sociais mais desfavorecidas, um dos focos previstos para a campanha será o combate à pobreza. “Entre nossas linhas de ação estarão aumentar a visibilidade das pessoas afetadas por doenças pulmonares, promover a inclusão e participação desses indivíduos em nosso esforço e garantir investimentos sustentáveis e permanentes na área”, afirmou.

A tuberculose mata, no mundo, uma pessoa a cada 20 segundos

Destaque na conferência, a tuberculose é um dos principais problemas a serem combatidos no Ano do Pulmão. Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde, a doença mata, no mundo, uma pessoa a cada 20 segundos – foram 1,8 milhão de vítimas apenas em 2007 [PDF]. No entanto, não costuma ser prioridade na agenda de pesquisa e desenvolvimento dos países afetados.

“As pessoas não acreditam que a tuberculose ainda seja um problema sério no mundo, pois a doença afeta principalmente as populações pobres”, explica Lee B. Reichman, do Instituto Global de Tuberculose da Escola de Medicina de New Jersey, nos Estados Unidos. “O que precisamos enfatizar, no entanto, é que qualquer um pode ser infectado”, completa.

A despeito da importância da doença, pouco se tem feito para avançar em sua prevenção e combate. Um exemplo emblemático disso é a vacina usada contra a tuberculose – a BCG, criada há quase cem anos. “A BCG protege crianças pequenas de formas graves da tuberculose, mas não é eficaz em adultos. Além disso, não é totalmente segura de ser aplicada em bebês infectados pelo vírus HIV”, pontua Peg Willingham, da Fundação Aeras Global TB Vaccine.

Willingham destaca, porém, que, neste momento, há 13 novas vacinas contra tuberculose em desenvolvimento, sendo que nove delas já estão em fase de ensaios clínicos. O desafio é desenvolver produtos eficazes e baratos.

Diagnóstico de tuberculose
Médico busca sinais de tuberculose em exames de raios-X. O desenvolvimento de métodos mais rápidos de diagnóstico é um dos desafios da luta contra a doença (foto: WHO/TBP/Davenport).

Diagnóstico e tratamento

Outros campos importantes de atuação no combate à tuberculose são diagnóstico e tratamento. Segundo Mark Perkins, da Fundação por Novos Diagnósticos Inovadores, é comum que pacientes demorem de três a seis meses para serem diagnosticados. “Novas tecnologias estão disponíveis em países ricos, mas os métodos ainda são velhos e complexos nos países pobres”, alerta.

Mais uma vez, o desafio é conciliar inovação tecnológica e preços acessíveis. Perkins estima que, por volta de 2015, já será possível diagnosticar tuberculose rapidamente por meio do teste da saliva do paciente em um dispositivo semelhante a uma caneta.

O aumento das formas de tuberculose resistentes às drogas disponíveis é um desafio

Em relação ao tratamento, um desafio é reduzir seu tempo de duração: atualmente, o paciente deve ser medicado diariamente por pelo menos seis meses. Por isso, muitos abandonam a terapia e contribuem assim para outro problema – o aumento das formas de tuberculose resistentes às drogas disponíveis. Por fim, a necessidade de administrar esses medicamentos em combinação com antiretrovirais – para pacientes vivendo com HIV – torna o quadro ainda mais complexo.

“Provavelmente precisaremos de uma combinação de várias drogas”, prevê William Wells, da Aliança Global para Desenvolvimento de Drogas contra Tuberculose (TB Alliance). Convencer as indústrias farmacêuticas a participar dessa empreitada será um grande desafio, antevê.

Embora o combate à tuberculose por si só já seja uma ambição heroica para 2010, o Ano do Pulmão pretende também agir em outras frentes. Controle de tabaco, câncer do pulmão, asma infantil e doenças pulmonares crônicas também estão no alvo da campanha.

Catarina Chagas (*)
Especial para a CH On-line

(*) A repórter viajou a Cancún a convite da National Press Foundation e da União Internacional contra Tuberculose e Doenças Pulmonares