Em março deste ano, operadores da usina nuclear de Fukushima, no Japão, usaram centenas de toneladas de água do mar para resfriar os reatores atingidos por um terremoto e um tsunami. A decisão não foi das melhores.
Em contato com o cloro marinho, os nêutrons do interior dos reatores produziram enxofre radiativo (S-35), que, como mostra um estudo publicado hoje (15/8) na revista PNAS, evaporou e foi empurrado por fortes ventos até La Jolla, Califórnia, a cerca de quatro mil quilômetros de distância da cidade japonesa.
Os pesquisadores do Instituto Scripps de Oceanografia, da Universidade de São Diego, detectaram o enxofre radioativo no ar do litoral californiano em filtros de papel especiais, usados para capturar partículas presentes no ar e estudar o clima.
O enxofre radioativo encontrado naturalmente no ar é formado a partir da incidência de radiação cósmica sobre o Argônio (Ar-40). Mas os níveis encontrados pelos pesquisadores entre março e abril deste ano foram muito elevados.
No dia de pico, 28 de março – duas semanas após a água do mar começar a ser usada nos reatores –, a concentração de enxofre radioativo registrada foi cerca de 120 vezes maior do que a normal.
Ainda assim, os pesquisadores avisam que a radiação encontrada é pequena e não apresenta perigo para humanos nem outros seres vivos. “O nível é muito baixo mesmo, só conseguimos perceber porque usamos um equipamento extremamente sensível”, afirma o líder da pesquisa, o meteorologista Mark Thiemens.
Ventos esperados
O pesquisador conta que não se surpreendeu com a descoberta, pois o sudeste da Califórnia recebe frequentemente correntes de ar vindas da Ásia, que se intensificam no verão. Ele estima que 0,7% dos íons radioativos que vazaram do reator da usina de Fukushima tenha sido carregado por ventos até a Califórnia.
Segundo Thiemens, o restante do enxofre pode ter ficado no próprio Japão ou ido parar em outros estados que fazem parte da rota de ventos vindos do Oriente.
É provável até que o enxofre radioativo vazado da usina não exista mais. “A água do mar foi usada para resfriar os reatores japoneses por oito dias; depois disso foi substituída por água doce e o enxofre parou de ser produzido”, conta o pesquisador. “Como o tempo de vida média do enxofre radioativo é de 87 dias, agora, o enxofre já deve ter sumido.”
Sofia Moutinho
Ciência Hoje On-line