Viagra para grávidas

A doença hipertensiva gestacional é a principal causa de morte entre grávidas no Brasil e no mundo. Em casos mais graves, quando se manifesta com a perda de proteínas na urina (proteinúria), além da hipertensão, configura o quadro de pré-eclâmpsia. O único tratamento definitivo para essa complicação, que acomete 5% das gestantes, é a interrupção da gravidez.

Um estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) indica que poderia haver uma solução menos drástica para o problema.

A pesquisa sugere que mulheres com pré-eclâmpsia poderiam ter o quadro revertido com o uso de citrato de sildenafila, substância mais conhecida pelo nome comercial de Viagra. Isso mesmo, o fármaco utilizado no tratamento da disfunção erétil masculina.

A relação entre uma coisa e outra não é difícil de entender. No homem, é a atividade de uma enzima, a fosfodiesterase, que, por meio da contração de vasos sanguíneos, impede que o pênis fique ereto o tempo todo.

A pesquisa sugere que mulheres com pré-eclâmpsia poderiam ter o quadro revertido com o uso do Viagra

Quando o organismo não consegue controlar a atividade dessa enzima e ela age continuamente, o homem fica impotente. Aí entra o papel da sildenafila, que inibe a ação da fosfodiesterase e permite, assim, a dilatação dos vasos sanguíneos do órgão genital.

“Descobrimos que em mulheres com pré-eclâmpsia a atividade da fosfodiesterase é maior que nas demais grávidas”, explica a bióloga Bartira Costa, autora do trabalho. “Isso pode estar provocando a contração vascular que leva à hipertensão”.

“Por inibir a ação da fosfodiesterase, o Viagra poderia servir para o tratamento também da pré-eclâmpsia”, arrisca a pesquisadora, que integra o Laboratório de Nefrologia da PUC-RS.

Viagra
Forma comercial do citrato de sildenafila, mais conhecido pela marca Viagra. Medicamento pode vir a servir no tratamento de síndrome que atinge gestantes. (foto: SElefant – CC BY-SA 3.0)

Testes em andamento

O resultado inédito da pesquisa dos brasileiros, publicado em 2006, levou cientistas de vários países a estudar o uso da sildenafila na pré-eclâmpsia.

Vasos retirados do útero de mulheres com a síndrome e com restrição de crescimento fetal apresentaram maior capacidade de relaxamento após imersos em solução com o inibidor de fosfodiesterase.

Em ratos, a ação da substância resultou em redução da proteinúria e da pressão arterial da fêmea, além de ganho de peso e diminuição da mortalidade dos fetos.

Ensaios clínicos com o medicamento, que estão sendo conduzidos por alguns grupos de pesquisa em países como Portugal e Itália, dirão se a pílula azul poderá ter um novo uso.

Célio Yano
Ciência Hoje On-line/ PR