A compra compulsiva, também chamada oniomania, é um distúrbio caracterizado pela aquisição exagerada – e desnecessária – de objetos, além da incapacidade de controlar os gastos. Apesar de ter sintomas característicos, a presença de sinais de depressão e ansiedade tende a dificultar o diagnóstico da doença, confundida frequentemente com o transtorno obsessivo compulsivo ou com o transtorno bipolar.
Diante da dificuldade e da confusão frequente, a psicóloga Tatiana Filomensky decidiu, em sua pesquisa de mestrado, buscar aspectos específicos que ajudem a detectar o problema. Filomensky aplicou questionários de autopreenchimento a 80 pacientes do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, onde desenvolveu sua tese.
Todos os pacientes envolvidos na pesquisa já haviam sido diagnosticados com oniomania, transtorno obsessivo compulsivo ou transtorno afetivo bipolar. As perguntas dos questionários tentavam evidenciar quais eram os sinais específicos de cada distúrbio.
Com os dados coletados, a psicóloga conseguiu identificar algumas diferenças importantes entre as doenças. “Diferente do comprador compulsivo, o paciente com transtorno obsessivo compulsivo mostrou intensa preocupação com limpeza e possibilidade de contaminação, enquanto o paciente bipolar foi caracterizado pela variação de humor entre os estados eufórico e deprimido”, explica.
Filomensky explica que o comprador compulsivo pode ser caracterizado pela impulsividade e dificuldade de planejamento. Ela também detectou que o comprador compulsivo costuma gastar na tentativa de suprir carências emocionais. “O ato de comprar gera prazer e ameniza a sensação de tristeza do paciente, que não consegue controlar o impulso por gastar e acaba tendo problemas financeiros e familiares.”
Origem incerta
Não se sabe exatamente por que a oniomania surge, mas alguns estudos mostram que ela pode estar relacionada a mutações em um gene que codifica a MAO-A, proteína que controla a produção de serotonina. A doença também pode surgir após eventos traumáticos, como o abuso sexual ou por influência do consumismo que vem se difundindo cada vez mais na sociedade.
Mesmo em quem não sofre do problema, o ato de comprar estimula a produção de substâncias que atuam no cérebro e geram prazer. A diferença entre quem tem uma queda por liquidações e quem é viciado em compras é que o comprador compulsivo se sente angustiado até poder comprar alguma coisa, como um dependente químico que anseia pela droga.
Quando não podem comprar, os oniomaníacos chegam a ter sintomas comuns aos de dependentes em abstinência de drogas, como tremores, suor em excesso e irritação. Em alguns casos, a busca pelo prazer é desastrosa: o paciente adquire dívidas e muitos passam horas comprando e perdem compromissos importantes no emprego, além de criar conflitos com os familiares que tentam impedi-los de comprar.
Por não haver um medicamento específico contra a doença, os psiquiatras costumam tratar os sintomas de depressão e ansiedade. No entanto, para a psicóloga, o melhor modo de administrar a doença é a partir de terapias que trabalhem os problemas característicos de cada paciente. “O tratamento psicológico é mais específico e usa a terapia individual ou em grupo para ajudar o paciente a se libertar do vício, reatar os laços com a família e se livrar das dívidas.”
Mariana Rocha
Ciência Hoje On-line