Vinho brasileiro com jeitinho europeu

A uva BRS Margot, nova variedade criada pela Embrapa, não é indicada para o consumo in natura , por ter cachos pequenos e muitos caroços. (Foto: Viviane Zanella Bello Fialho).

Produzir vinho em um país como o Brasil não é tarefa das mais fáceis. O clima tropical, com fortes pancadas de chuva, é incompatível com o cultivo de uvas finas, acostumadas ao tempo quente e seco. Na tentativa de produzir uvas semelhantes às consideradas finas, porém mais resistentes, a Embrapa Uva e Vinho criou a variedade BRS Margot, um cruzamento da Merlot, típica da região de Bordeaux, na França, com a Villard Noir, híbrida de uma uva fina européia com cinco espécies norte-americanas. O resultado foi uma fruta que pode ser produzida em larga escala no Brasil e gera um vinho tinto com preço acessível e sabor muito parecido ao das castas européias.

A idéia de aliar a resistência da Villard ao sabor fino da Merlot ocorreu em 1977. Depois disso, a nova variedade passou um tempo esquecida, até ser apresentada ao mercado pela Embrapa em fevereiro deste ano. “Na época, o público brasileiro consumia mais o vinho branco”, explica o agrônomo Umberto Camargo, coordenador da pesquisa. “Com a descoberta do efeito protetor do vinho tinto sobre o coração, as pessoas passaram a consumir o produto com mais freqüência.”

O vinho produzido a partir da BRS Margot é considerado ‘de mesa’, já que a variedade é híbrida. Mas seu sabor, segundo Camargo, está mais próximo do dos vinhos finos: “É um vinho para o consumo popular, porém sem o sabor que normalmente caracteriza os vinhos de mesa, do qual alguns não gostam.” Aprovada por enólogos da Embrapa, a versão brasileira teria preços mais acessíveis que os vinhos finos importados da Argentina e do Chile. “Ela é uma opção para o consumidor que gosta dos vinhos estrangeiros, mas não quer gastar tanto com eles”, avalia Camargo.

A BRS Margot já está sendo produzida e os pedidos de mudas têm aumentado. No entanto, a nova variedade não se destina ao consumo in natura , por ter cachos pequenos e muitos caroços. “Seu suco também não tem sabor compatível com aquele que o mercado brasileiro está habituado”, acrescenta o pesquisador.

Quem quiser experimentar o novo vinho nacional poderá encontrar o produto em alguns supermercados a partir do segundo semestre deste ano. “Com o aumento da demanda, ele poderá chegar a todo o país”, prevê. 

Fernanda Alves
Ciência Hoje On-line 
22/05/2007