O debate em torno da Amazônia tem crescido cada vez mais nos últimos anos, e a importância de sua preservação para controlar as consequências das mudanças climáticas que já estão em curso é mais do que evidente. Entretanto, o que talvez seja menos evidente é que a destruição da Amazônia tem historicidade e se insere em determinado pensamento que fincou raízes profundas na nossa forma de compreender o mundo.
Sem compreendermos como esse pensamento funciona e as suas consequências, mitigar as mudanças climáticas será muito mais difícil. A partir da entrevista publicada na CH 419 com Paulo Moutinho, pesquisador do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), propomos uma atividade para que essas questões sejam trabalhadas em sala de aula.
A atividade deve se iniciar a partir de uma leitura da entrevista com o pesquisador do IPAM Paulo Moutinho publicada na CH 419. Uma série de questões norteadoras podem servir para orientar essa leitura. Sugerimos as seguintes:
1- Como podemos dividir as terras da Amazônia, segundo o pesquisador Paulo Moutinho? Você consegue esboçar um gráfico aproximado dessa divisão?
2- Segundo a Lei de Gestão de Florestas Públicas (2006), as chamadas “florestas públicas não destinadas” devem ser destinadas a quais grupos?
3- Você sabe o que são grileiros? Quais técnicas os grileiros usam para se apropriar das “florestas públicas não destinadas”?
4- Qual a relação da grilagem de terras com o crime organizado?
5- “O agronegócio é um dos grandes responsáveis pelo desmatamento da Amazônia, mas ele também sofre as suas consequências”. Justifique essa frase com base no texto.
6- Como os saberes indígenas podem ser usados para contribuir para a manutenção da biodiversidade da região amazônica?
Após uma discussão inicial feita a partir dessas perguntas, a ideia é identificarmos as lógicas de um pensamento que atribuiu à Amazônia o caráter de um “vazio demográfico”, que deve ser preenchido por colonos não indígenas e explorado economicamente. O docente deve salientar frente aos alunos que esse ideal, presente desde o Brasil colônia, toma um grande impulso a partir do século 20, e tem como importantes momentos de virada a Marcha para o Oeste, durante o Estado Novo, e as políticas da Ditadura Militar.
Sugerem-se dois conjuntos de fontes para a realização dessa discussão com os estudantes. A primeira é um discurso de Getúlio Vargas, em Manaus, em 10 de outubro de 1940:
“Com os primeiros conhecimentos da Pátria maior, este vale maravilhoso aparece ao espírito jovem, simbolizando a grandeza territorial, a feracidade inigualável, os fenômenos peculiares à vida primitiva e à luta pela existência em toda a sua pitoresca e perigosa extensão. As lendas da Amazônia mergulham raízes profundas na alma da raça e a sua história, feita de heroísmo e viril audácia, reflete a majestade trágica dos prélios travados contra o destino. Conquistar a terra, dominar a água, sujeitar a floresta foram nossas tarefas. E, nessa luta, que já se estende por séculos, vamos obtendo vitória sobre vitória.” (apud ANDRADE, Rômulo de Paula).
O segundo conjunto de fontes é uma série de propagandas, oficiais do governo e de empresas privadas, à época da Ditadura Militar, relativas aos empreendimentos que estavam sendo desenvolvidos na Amazônia. Todas essas imagens encontram-se disponíveis no link presente no item “Explore +”.
Após a análise de fontes, a ideia é que os estudantes se sintam capazes de compreender a evolução histórica da lógica que tem na atual predação da Amazônia o seu ponto culminante. Como etapa final dessa atividade, sugere-se uma redação (podendo ser também um vídeo, um cartaz ou outro modelo de apresentação) em que os estudantes reflitam sobre a própria denominação “terra de ninguém” para se referir às “florestas públicas não destinadas”. Sabemos que essas florestas são, sim, habitadas por diversas comunidades tradicionais (indígenas, quilombolas, ribeirinhos, comunidades extrativistas…). Além disso, a própria floresta tem uma vida e uma dinâmica próprias, que necessitam de uma extensão grande para continuarem existindo. O que significa qualificar toda essa vida como “ninguém”?
CARDIM, Ricardo. A ofensiva da ditadura militar contra a Amazônia. Quatro Cinco Um. Disponível em: https://quatrocincoum.com.br/galeria/a-ofensiva-da-ditadura-militar-contra-a-amazonia/.
ANDRADE, Rômulo de Paula. “Conquistar a terra, dominar a água, sujeitar a floresta”: Getúlio Vargas e a revista “Cultura Política” redescobrem a Amazônia (1940-1941). Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, v. 5, n.2, ago. 2010. Disponível em: https://www.scielo.br/j/bgoeldi/a/CSBRwGrXhdL6DKjG5bGQWwG/.