Um navio escravagista em Angra dos Reis

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Um navio escravagista em Angra dos Reis

Professor de História do Colégio de Aplicação
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Doutorando do Programa de Pós-graduação em História Social da Cultura da Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro

O processo de abolição da escravidão no Brasil é muitas vezes trabalhado como uma linha progressiva que envolve a promulgação de leis como a Lei Feijó (1831) – chamada de “Lei para Inglês Ver” –, a Lei Eusébio de Queirós (1850), a Lei do Ventre Livre (1871), a Lei dos Sexagenários (1885) e, finalmente, a Lei Áurea (1888), que tornou ilegal a escravidão no Brasil. Entretanto, esse esquema ofusca a complexidade dos processos de abolição, que jamais se deram de maneira completa no Brasil. 

O presente artigo nos apresenta diferentes fontes históricas a partir das quais é possível refletir sobre os limites das chamadas “leis abolicionistas” e as permanências das práticas escravistas pensadas em longa duração, através de estudos de caso na região sul do estado do Rio de Janeiro.

Possibilidades de abordagem:

  • Localizar espacialmente os principais portos de tráfico de escravizados em África e os principais centros de desembarque no sul do Rio de Janeiro, entre 1831 e meados da década de 1850; 
  • Discutir a importância das fontes orais dos grupos quilombolas na reconstrução da história do tráfico ilegal de escravizados no Brasil, enfatizando a permanência de memórias, tradições e formas de violência até os dias de hoje; 
  • Analisar a importância da cultura material no estudo do tráfico ilegal de escravizados para o Brasil e nas políticas de reparação aos grupos descendentes de suas vítimas.

Proposta de atividade:

A partir da leitura do artigo de Martha Abreu da Ciência Hoje 400 e dos quatro vídeos curtos que compõem a página “Identidades do Rio”, propõe-se a montagem de um mapa com intervenções históricas a respeito do tráfico transatlântico de escravizados com destino ao sul do estado do Rio de Janeiro entre 1831 e meados da década de 1850, quando essa atividade já era considerada ilegal – e contra a qual, a partir de 1850, passou a haver uma efetiva fiscalização. 

Em um mapa mundi, os principais portos de tráfico em África devem ser identificados (Cabinda, Luanda, Benguela, Quelimane e Ilha de Moçambique) e, em um mapa do sul do estado do Rio, as regiões de Baía da Ilha Grande, Ilha de Marambaia e Baía de Angra dos Reis. 

A partir dessa localização geográfica, é importante realizar um debate sobre a importância das fontes orais das populações quilombolas (especificamente do Quilombo de Bracuí) na reconstrução da história do tráfico ilegal de escravizados para o Brasil, no período de maior vinda de africanos para o país. Esse debate deve contemplar as permanências da escravidão em nossa sociedade até hoje, e como os quilombos podem lançar luz sobre as violências cometidas e sobre as formas de resistência. 

Termos como “pontos de engorda” podem ser discutidos para a compreensão de como a geografia do estado está marcada pelo processo de desumanização dessas populações. Trechos dos depoimentos do senhor Manoel Morais e/ou reflexões dos alunos podem ser afixadas ao mapa (e links para os depoimentos podem ser inseridos via QR code). 

Os esforços para encontrar o navio Camargo, cujo naufrágio proposital em 1852 permanece nas narrativas orais dos quilombolas, também podem ser analisados, em uma discussão sobre a importância da cultura material na compreensão dessa história e nas medidas de reparação aos grupos descendentes de escravizados. As imagens das buscas realizadas também podem ser inseridas no mapa, com a localização das regiões onde essas buscas estão acontecendo. 

Depois de pronto, recomenda-se que o mapa seja exposto no colégio, para que estimule o debate entre a comunidade escolar como um todo.

Recursos utilizados:

  • Artigo de Martha Abreu, da CH 400, a ser disponibilizado on-line ou em material impresso para os alunos;
  • Vídeos curtos integrantes da página “Identidades do Rio”, a serem exibidos em data show com caixa de som ou em laboratório de informática;
  • Mapa mundi e mapa do sul do Rio de Janeiro, sobre os quais serão realizadas as intervenções históricas.

Identidades do Rio (página on-line). Disponível em: http://www.pensario.uff.br/ . Os quatro vídeos disponibilizados na página acima podem ser acessados diretamente no YouTube nos links abaixo: 

https://www.youtube.com/watch?v=RuqQtDfa28o 

https://www.youtube.com/watch?v=VPRqWOePsR4 

https://www.youtube.com/watch?v=ARYYblMJJsM  

https://www.youtube.com/watch?v=S24tzYgaTA0