A química do cosmo: segredo revelado pelos meteoritos

 

O meteorito Eagle Station, do tipo palasito, pertencente à coleção do Museu de História Natural, em Viena, consiste em cristais de olivina incrustados em metal, o que levanta a questão sobre como permaneceriam juntos materiais de densidades tão diferentes (escala em branco: 2 cm). (Foto cedida pela autora).

Antes de colidirem com a superfície terrestre, os meteoritos perambularam por vastas regiões do espaço, carregando consigo inumeráveis segredos sobre a formação do sistema solar. Muitas dessas rochas primitivas, com idades que chegam a bilhões de anos, retêm em sua estrutura a ‘memória’ química de tempos em que o Sol, os planetas e todos os outros corpos celestes ainda se formavam a partir de um aglomerado de gás e poeira.

Extrair desses mensageiros do cosmo a informação para entender a evolução da galáxia é o papel da chamada cosmoquímica, uma área multidisciplinar que interage com a astrofísica, física, astrobiologia e geologia, para desvendar os principais momentos de uma história que começou muitas vezes a ser delineada nos primórdios do universo, quando as estrelas começavam a nascer.

O que é a cosmoquímica? O que podemos aprender com o estudo dos meteoritos, essas rochas espaciais primitivas, tão antigas quanto o próprio sistema solar? Respondendo à primeira pergunta, apresentamos aqui o que talvez seja a mais bela definição de cosmoquímica, dada pelo pesquisador norte-americano Donald Clayton, ainda em 1982: “É a ciência que mede as propriedades da evolução química da galáxia, mediante o estudo de meteoritos nos laboratórios terrestres.”

Para compreender essa definição, devemos considerar os meteoritos como o produto final de diversos objetos que, por sua vez, foram capazes de guardar em suas ‘memórias’ diferentes momentos da história que levou à formação do sistema solar. Porém, o importante – pois isso é a base da cosmoquímica – é que a transformação química pela qual passou o sistema solar não apaga a ‘memória’ das condições químicas iniciais. Em outras palavras, nos meteoritos e demais objetos extraterrestres, permanecem características relativas ao ambiente em que eles se formaram. Basta a nós encontrá-las.

Antes de prosseguirmos, vale uma observação em relação à terminologia empregada na cosmoquímica: meteoróides é a denominação para os objetos sólidos que vagam pelo espaço. Quando eles penetram a atmosfera terrestre, são denominados meteoros. Aqueles que chegam ao solo – muitos são completamente ‘queimados’ na queda – passam a ser chamados meteoritos.

Grande segredo
Como se determina a abundância dos elementos químicos no Sol? Essa estrela representa 99,9% da matéria do sistema solar. Portanto, uma boa análise da composição global do Sol é tudo o que precisamos para determinar uma média das abundâncias dos elementos químicos do sistema solar. Os dados da fotosfera solar (camada da estrela onde tem origem a radiação visível) são os que fornecem a informação mais confiável. Mas, para muitos elementos químicos, essas análises são muito difíceis; para outros, quase impossíveis.

Nesse aspecto, os meteoritos têm um grande segredo a revelar. Entre todos os materiais conhecidos, há uma classe especial de meteorito, os chamados condritos, que apresenta uma composição quase idêntica à da fotosfera solar – condritos estão entre os meteoritos mais primitivos. Portanto, o estudo desses meteoritos permite determinar a composição química do Sol com base na análise de rochas em laboratórios terrestres.

Os meteoritos não contêm apenas as evidências mais precisas das abundâncias relativas dos elementos químicos não voláteis. Eles também são um registro único do chamado fracionamento químico – conceito que discutiremos mais adiante – durante a formação dos corpos sólidos ao longo da evolução do sistema solar.

María Eugenia Varela
Complexo Astronômico El Leoncito (San Juan, Argentina)

 

Você leu apenas a introdução do artigo publicado na CH 237.
Clique no ícone a seguir para baixar a versão integral (1,3 MB) Arquivo de formato PDF. Pode ser aberto com o Adobe Acrobat Reader. Baixe gratuitamente de http://www.adobe.com/

Outros conteúdos desta edição

Outros conteúdos nesta categoria

614_256 att-22975
614_256 att-22985
614_256 att-22993
614_256 att-22995
614_256 att-22987
614_256 att-22991
614_256 att-22989
614_256 att-22999
614_256 att-22983
614_256 att-22997
614_256 att-22963
614_256 att-22937
614_256 att-22931
614_256 att-22965
614_256 att-23039