(foto: Chris Panteli).

Os pais têm um motivo a mais para se preocupar com o consumo excessivo de álcool por seus filhos adolescentes. Experimentos em ratos feitos por pesquisadores do Departamento de Nutrição da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) indicam que o consumo da substância nessa fase da vida leva à redução da ingestão de alimentos e repercute negativamente no desenvolvimento nutricional.

Para estudar a relação entre nutrição e álcool na adolescência, os pesquisadores administraram doses de etanol em ratos adolescentes machos (de aproximadamente 50 dias) junto a uma dieta contendo feijão carioquinha, arroz polido, frango de granja, farinha de mandioca e óleo de soja. Segundo a nutricionista Cybelle Rolim, responsável pela pesquisa, que resultou em sua tese de mestrado, sob orientação da professora Francisca Martins Brion, um dos diferenciais do experimento foi a utilização de uma dieta com alimentos específicos da região Nordeste, para que os resultados gerados pudessem beneficiar seus habitantes.

Durante nove semanas, foram avaliados elementos como consumo alimentar, peso corporal, ingestão hídrica e etílica, gordura da carcaça e aspectos bioquímicos (glicose, albumina, taxas lipídicas e colesterol, entre outros). Ao todo foram empregados 36 ratos machos da linhagem Wistar, divididos em três grupos: o grupo-controle, que dispunha de água; o grupo para o qual foi oferecida uma solução de água com 10% de álcool e o grupo que recebeu solução hidroalcoólica a 20% (ambas preparadas a partir de aguardente de cana-de-açúcar). “As quantidades foram definidas na tentativa de se aproximar do teor alcoólico de bebidas como caipirosca e caipirinha, bastante consumidas pelos jovens da região”, explica Rolim.

Embora não tenham sido realizados testes com humanos, Rolim afirma que os resultados obtidos nos experimentos com ratos podem ser aplicados a eles. O uso de roedores permitiu a obtenção de dados mais completos, como os decorrentes da análise dos órgãos internos dos animais.

Nutrição afetada
Por meio de medições semanais e diárias, observou-se que os ratos submetidos à solução hidroalcoólica de 20% consumiram menor quantidade de ração, enquanto os animais que só dispunham de água alimentaram-se normalmente. “Nos primeiros, o consumo de comida diminuiu, assim como o peso corporal, o percentual de gordura e a quantidade de albumina no corpo, uma das proteínas indicadoras de desnutrição”, diz Rolim.

“A ingestão de álcool repercute de forma negativa no estado alimentar de adolescentes, justamente nessa fase em que as necessidades nutricionais são elevadas”, completa a nutricionista. Nos ratos que ingeriram solução hidroalcoólica a 10%, não foram observados efeitos significativos. No entanto, a nutricionista acredita que, com maior tempo de exposição, a solução poderia causar danos aos animais.

A pesquisadora explica que, por se tratar de uma substância tóxica, o álcool lesa os órgãos do trato gastrointestinal (principalmente fígado e estômago), o que acaba afetando a nutrição. Segundo ela, o etanol também afeta a metabolização dos nutrientes.

Rolim quer estudar agora outras bebidas alcoólicas e diferentes grupos etários e sexuais. Em seu doutorado, ela pretende testar soluções hidroalcoólicas equivalentes à cerveja e ao vinho, bebidas com teor alcoólico menor do que o estudado na primeira fase da pesquisa (aproximadamente 6%), observando seus efeitos em crianças, gestantes e idosos. “Um importante passo é a realização de testes com ratos do sexo feminino, uma vez que, atualmente, o consumo de bebidas alcoólicas entre homens e mulheres já não é tão discrepante.”

Rachel Rimas
Ciência Hoje / RJ

 

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