Por serem os primeiros animais atraídos para um cadáver, moscas-
varejeiras (como a Phaenicia sericata na foto) são importantes
indicadores forenses (foto: Leon Higley, UNL Entomology)

A entomologia forense utiliza o comportamento de insetos em cadáveres para auxiliar em investigações médico-criminais. Embora seja uma área de pesquisa bem difundida em alguns países de Primeiro Mundo, ela pode ser considerada recente no Brasil, onde, no entanto, já atrai o interesse de alguns pesquisadores e peritos. Estudos sobre alguns aspectos da biologia de moscas-varejeiras, insetos importantes como indicadores forenses, vêm sendo desenvolvidos há alguns anos pelo Departamento de Zoologia da Universidade Estadual Paulista (campus de Rio Claro, SP).

Os insetos constituem o grupo animal com o maior número de espécies já descritas pela ciência. Esse número é de quase um milhão, segundo especialistas. Quando se leva em conta a importância econômica desses animais, normalmente as primeiras espécies lembradas são as que, direta ou indiretamente, causam prejuízos materiais ou danos à saúde de plantas e animais (inclusive o homem), muitas delas vistas como ‘pragas’. É preciso não esquecer, porém, que inúmeros organismos desse imenso grupo trazem benefícios ao homem, como, entre outros, o bicho-da-seda e as espécies polinizadoras — estas são essenciais para muitas culturas agrícolas.

Em sua relação com a espécie humana, porém, os insetos podem desempenhar muitas vezes um papel surpreendente. Esse é justamente o caso da entomologia forense, ciência que aplica o estudo dos insetos a procedimentos relacionados a investigações médico-criminais.

A ligação entre insetos e medicina legal é a seguinte: quando um animal morre em ambiente natural, seu corpo é rapidamente colonizado por uma fauna necrófaga, ou seja, por animais que se alimentam de tecidos orgânicos decompostos. Isso também acontece com cadáveres humanos deixados expostos.

Em geral, os primeiros animais atraídos para a carcaça, imediatamente após a morte, são as moscas-varejeiras. Tais moscas, existentes em praticamente todo o mundo (exceto nas regiões polares e áreas vizinhas), utilizam a carne em decomposição para sua alimentação e para a postura de ovos e larvas.

Durante o processo de decomposição, o corpo servirá de alimento e/ou abrigo para uma sucessão de diferentes espécies de insetos. As moscas-varejeiras, por exemplo, predominam no início da decomposição do cadáver, mas quando esta já está adiantada os besouros são encontrados em maior número.

Outros artrópodes — formigas, vespas e alguns aracnídeos (ácaros e aranhas) — também podem ser encontrados predando ovos, larvas e pupas de moscas-varejeiras, mas normalmente são, assim como lagartas de mariposas, considerados visitantes acidentais dos cadáveres. Em alguns casos, porém, podem fornecer informações importantes sobre o estado de decomposição do corpo.

Leonardo Gomes (doutorando) e Cláudio José Von Zuben
Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências,
Universidade Estadual Paulista (Rio Claro)

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