A caatinga está em risco: estudo revela que 59% da vegetação original desse bioma já sofreu algum tipo de modificação por atividades humanas. Imagens de satélite e visitas de campo serviram de base para os autores de uma pesquisa que mapeou a degradação dessa vegetação em áreas com mais de 40 hectares em todos os estados nos quais o bioma está presente. Para os cientistas, a constatação da grande depredação evidencia a necessidade de medidas urgentes para a preservação da caatinga, que hoje só tem 1% de sua área inclusa em unidades de conservação.

“A Amazônia tem que lidar com a pressão internacional; a mata atlântica e o cerrado são defendidos por organizações não-governamentais por serem centros de grande diversidade. Mas, e a caatinga? Ela foi esquecida. É preciso apresentá-la às pessoas. É preciso mostrar o seu verdadeiro potencial”, diz o geocientista Washington Rocha, do Departamento de Ciências Exatas da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), na Bahia, e um dos integrantes da equipe que realizou o trabalho.

A vegetação da caatinga não é uniforme e não se limita às imagens freqüentemente associadas a esse bioma no imaginário popular (foto: Allan Patrick).

Rocha afirma que pesquisas recentes confirmam esse potencial ao apontar a diversidade e o alto grau de endemismo da caatinga e a possibilidade de exploração econômica de seus recursos. Além disso, ele lembra que conhecer e usar racionalmente esse potencial são maneiras de frear os motores da degradação ambiental – no caso, a extração de madeira para uso industrial, principalmente nas fábricas de gesso, e a expansão de cultivos como o da cana-de-açúcar.

Um dos pontos polêmicos do estudo foi a metodologia usada. Rocha conta que muitos pesquisadores defendem que a caatinga não pode ser considerada uniforme e alegam que, na verdade, existem várias caatingas. A metodologia do trabalho, no entanto, não considera esse fato e distingue a vegetação por sua densidade, e não pela sua composição.

O método é o mesmo empregado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em trabalhos anteriores e em pesquisas simultâneas em outros biomas. “A idéia foi possibilitar a comparação entre os dados. Mas é claro que para realizar um monitoramento mais qualitativo será preciso usar uma abordagem que diferencie os vários tipos de caatinga”, diz Rocha.

Alteração pela ação humana
Para considerar uma área como remanescente da caatinga original, os cientistas verificaram a ocorrência, ou ausência, de interferência humana sob várias formas. Se houvesse, por exemplo, evidências de pastoreio ou a presença de trilhas muito demarcadas, o local era considerado alterado pela ação humana.

“Isso significa dizer que nem todo local que identificamos como submetido a essa atividade estava totalmente ausente de vegetação. Ao contrário, há locais em que o ser humano e caatinga convivem, mas são áreas que não consideramos como representantes da vegetação original.”

Os resultados do trabalho auxiliaram o Ministério do Meio Ambiente (MMA) na revisão das áreas prioritárias para conservação da caatinga. Segundo Rocha, esse é o primeiro passo para o estabelecimento de novas áreas protegidas. O pesquisador lembra, no entanto, que entre a identificação dos locais e a efetivação de novas unidades de conservação há um longo caminho a trilhar.

“De qualquer modo, é importante mostrarmos quais as áreas mais relevantes para a conservação e quais ainda têm extensão considerável, porque a existência apenas de pequenos núcleos isolados empobrece a vegetação, diminui a diversidade genética”, conclui.

Mariana Ferraz
Ciência Hoje / RJ

 

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