Sílvia, a nova serpente brasileira

O único exemplar da nova serpente que já este vivo em cativeiro (foto: Marcos Di Bernardo)
Uma nova espécie de cobra coral verdadeira foi descoberta na região Sul do país por pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), em parceria com a Universidade Católica de Goiás (UCG) e a Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul (FZB/RS). Identificada como pertencente ao gênero Micrurus , a nova coral vai entrar para a lista de 326 serpentes do Brasil, que ocupa a quarta posição na relação de países com maior diversidade de répteis do mundo. O nome do animal é uma homenagem à esposa do herpetólogo Marcos Di Bernardo, a pesquisadora Sílvia Di Bernardo, que faleceu em 2002.
Inicialmente, a nova serpente foi confundida com uma espécie já registrada e bastante comum no Sul do país, a Micrurus altirostris . Porém, os pesquisadores estranharam o padrão de coloração e o tamanho do animal, muito superior ao padrão, e o submeteram à análise de Di Bernardo. Este, juntamente com os biólogos Márcio Borges Martins e Nelson Jorge da Silva Júnior, estão descrevendo a nova espécie.
Dados escassos
Segundo Martins, da FZB/RS, muito pouco se sabe sobre a nova serpente. “As informações que temos sobre ela se baseiam nas características gerais das cobras-corais”, diz o biólogo. “A falta de dados resulta da dificuldade de se encontrar o animal na natureza. Além de rara, a serpente possivelmente tem hábitos subterrâneos, se escondendo sob pedras e folhagens, dificultando sua coleta”, explica. O único animal vivo com que os pesquisadores tiveram contato já morreu. Ele fora examinado de acordo com o processo padrão de descrição, que inclui informações como número de escamas e coloração.
Acredita-se que a serpente habite regiões de campo, principalmente no Planalto Médio e na Campanha, região que abrange o centro, o norte e o sudoeste do estado do Rio Grande do Sul, onde foram encontrados todos os espécimes. Em relação à sua dieta, os herpetólogos supõem que inclua outras serpentes, além de répteis serpentiformes, como a cobra-cega.
Na avaliação de Martins, a nova coral deve ter poucos ou nenhum predador, uma vez que sua coloração rubro-negra é associada pelos outros animais ao potente veneno característico dessa espécie, que os intimida. O biólogo cita outra pesquisa, na qual foram analisadas as fezes de possíveis predadores de serpentes. Nos excrementos foram encontrados fragmentos de diversas cobras, inclusive jararacas (que possuem um veneno poderoso), mas não de corais verdadeiras. A partir dessa observação, concluiu-se que os animais evitam caçar corais.
O diferencial desse potente veneno está em seu local de ação. Enquanto o veneno de cobras como a jararaca ou a cascavel age sobre músculos e outros tecidos da vítima, a peçonha da coral ataca o sistema nervoso, podendo matar um homem facilmente. Apesar disso, Martins afirma ser raro o registro de ataque de corais a pessoas, já que são cobras tranqüilas que não costumam dar bote.
Novos alvos
Após o processo de descrição de ‘Sílvia’, os herpetólogos pretendem reexaminar os exemplares que detêm em seu acervo pois, segundo Martins, é provável que haja novas espécies a descobrir, que poderiam estar sendo confundidas com outras já descritas.
Nos últimos cinco anos, o grupo de pesquisas da FZB/RS e da PUC-RS fez cerca de 10 registros entre novas espécies e redescrições. De acordo com o biólogo, os recentes avanços da herpetologia no Brasil são creditados ao crescente interesse que a área tem despertado e, conseqüentemente, ao aumento no número de profissionais que optam por esse campo de estudo.

Júlio Molica
Ciência Hoje/RJ

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