As plantações de arroz estão relacionadas com o aumento do gás metano na atmosfera terrestre, participando assim do efeito estufa?

 

Quando se ouve falar de efeito estufa, as primeiras idéias que vêm à mente são derretimento de calotas polares, aumento do nível do mar, desastres naturais… Um caos, enfim, para a humanidade. Mas, de fato, foi o efeito estufa que transformou a Terra, um possível pedaço de gelo, em um planeta habitável. Sem ele, a temperatura média da superfície do planeta seria de -18°C, em vez de 15°C.

O metano (CH4), também chamado ‘gás do pântano’, é um dos gases de efeito estufa. Sua concentração, estimada em 1,72 ppm (parte por milhão), vem crescendo na razão de 0,9% ao ano. Quando áreas de plantios são alagadas, a decomposição vegetal promove a formação de CH4. Isso pode ocorrer naturalmente — como, por exemplo, durante as cheias periódicas de várzeas ribeirinhas na Amazônia e no Pantanal Mato-grossense — ou em decorrência da ação humana. São exemplos do último caso o plantio de arroz em área alagável ou a construção de lagos artificiais que inundam florestas. Outras fontes de CH4 são a queima de biomassa, os gases entéricos de animais, os cupins e os oceanos.

Os cientistas atribuem a elevação de sua concentração ao aumento da produção de alimentos, como arroz e gado. Estima-se que a contribuição das plantações de arroz seja de 20% e a da criação de gado gire em torno de 14%. Mas pode haver também contribuições naturais. Observou-se que a segunda metade do século 20 foi mais chuvosa que a primeira, o que teria provocado o aumento de áreas alagáveis. Observou-se também, tomando como base o início e o fim do século 20, que a temperatura média da superfície dos oceanos subiu 0,6°C. Esse aumento reduziu a capacidade dos oceanos de absorver carbono e eles passaram, como um refrigerante aquecido, a expulsar o gás em solução, provocando o acúmulo de mais CH4 na atmosfera.

A concentração de metano ainda é pequena, mas em princípio, seu aumento seria mais eficiente para intensificar o efeito estufa do que o de gás carbônico (CO2). Afinal, 1kg de metano e 58kg de CO2 absorvem igual quantidade de radiação. Mas sua ação teria mais impacto em regiões temperadas e polares, cuja atmosfera concentra pouco vapor d’água. A banda de absorção do CH4, vale lembrar, se sobrepõe à do vapor d’água, o gás-estufa mais abundante da Terra.

Ciência Hoje 173, julho 2001 
Luiz Carlos Baldicero Molion, 

 

Departamento de Meteorologia
Universidade Federal de Alagoas .

 

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