Políticas industriais voltadas à substituição de importações contribuem para o cenário de dependência tecnológica no Brasil e prejudicam o desenvolvimento rápido de produtos e soluções adequados às necessidades brasileiras
CRÉDITO: FOTO ADOBE STOCK
CRÉDITO: FOTO ADOBE STOCK
Há mais de um século, o cientista francês Louis Pasteur (1822-1895) ajudava a fundar a microbiologia moderna, ao mesmo tempo em que desenvolvia novos produtos e processos. A vacina antirrábica de Pasteur foi o primeiro resultado de grande repercussão da microbiologia aplicada à medicina. É um antecedente histórico relevante para compreendermos os fundamentos da sociedade do conhecimento em que vivemos. Nela e, particularmente, na indústria fundamentada em ciência e inovação tecnológica, não há mais espaço para o antigo dilema: ciência básica versus ciência aplicada. Não há mais espaço segmentado, sem comunicação, e, em consequência, não há espaço para pesquisadores trabalhando isoladamente com visão reducionista da realidade. Não há mais lugar para a linearidade no processo de agregação de valor. A sociedade demanda soluções inovadoras que produzam melhorias contínuas na qualidade de vida e soluções rápidas para as emergências.
Para atender a este cenário, em rápida evolução, cientistas e tecnólogos de universidades, instituições de pesquisa e empresas necessitam compartilhar, fluidamente, suas competências para criar e se apropriar, em tempo real, do conhecimento necessário – já estabelecido e que ainda precisa ser desenvolvido, com velocidade – e, assim, oferecer produtos e soluções que atendam às necessidades ainda não satisfeitas e outras inesperadas e urgentes. Em outras palavras, é preciso mobilizar simultânea e integradamente todos os recursos necessários para se chegar a uma solução.
Por questões históricas, a industrialização do Brasil aconteceu tardiamente. Na tentativa de buscar resultados rápidos e sem riscos, o Estado brasileiro tem optado por políticas industriais fundamentadas na substituição de importações. No caso específico da indústria farmacêutica, essa estratégia de curto prazo surgiu com mais força a partir do incentivo aos medicamentos genéricos (aqueles com características e efeitos idênticos aos dos medicamentos de marca, mas comercializados apenas com o nome de seu princípio ativo), que ofereceu à sociedade brasileira acesso a medicamentos com patentes já expiradas por um preço menor. Contudo, apesar do financiamento de longo prazo por parte do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), os avanços tecnológicos relevantes que eram esperados não se concretizaram. Mais recentemente, as parcerias para o desenvolvimento produtivo (PDPs) – estratégia do governo para fomentar a colaboração entre instituições públicas e privadas, fortalecendo, assim, o complexo industrial do país e ampliando o acesso a medicamentos e produtos importados de alto custo para o Sistema Único de Saúde – não representaram mais do que a reedição de uma política de substituição de importações. O resultado tem sido apenas o domínio de nichos do mercado, com redução de preço para a população.
Nesse processo, os mestres das universidades brasileiras têm sido chamados a ajudar a interpretar tecnologias criadas décadas atrás por outros cientistas. Dessa forma, também contribuem para a nossa dependência tecnológica. Destaca-se aqui a dependência associada ao ato de aprender a ‘ver’ os problemas da sociedade através dos olhos, mentes e esforços daqueles que criaram o paradigma tecnológico vigente. Assim, quando, na universidade, dizemos que o título de doutor é conferido àquele que “alcança a sua independência intelectual”, traduzindo para a realidade de nosso cotidiano industrial, isso, na prática, significa geralmente saber interpretar o feito dos outros. As chamadas inovações incrementais são meritórias, mas nos mantêm dentro dos limites já estabelecidos e não propiciam as mudanças dos paradigmas tecnológicos de um país que precisa se modernizar e reduzir, com a máxima urgência, sua dependência tecnológica.
A inovação tecnológica é a forma mais frequente de estabelecer novos paradigmas – e, consequentemente, vantagens competitivas e novos líderes. Por outro lado, a imitação tecnológica tem nos colocado no acelerado caminho da obsolescência, o que está determinando a desindustrialização progressiva e limitando o Brasil à produção de commodities (produtos básicos não industrializados), muitas vezes com forte prejuízo ao meio ambiente, às nossas florestas, à biodiversidade, aos aquíferos e a outras riquezas naturais que abençoam o Brasil.
Por essa rota da desindustrialização, o Brasil caminha para aprofundar suas dependências tecnológicas e acumular grandes déficits comerciais nas áreas intensivas do conhecimento científico. Mas não é só isso. Entendemos a indústria brasileira como a plataforma natural e necessária para a expressão da ciência brasileira em benefício da sociedade. Assim, a obsolescência da indústria nacional acaba naturalmente prejudicando o reconhecimento da universidade como uma instituição de valor social insubstituível.
Jaime A. Rabi
Microbiológica, Química e Farmacêutica Ltda.
João B. Calixto
Centro de Inovação e Ensaios Pré-clínicos (CIEnP)
Thiago Moreno L. Souza
Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde,
Fundação Oswaldo Cruz
Jaime A. Rabi
Microbiológica, Química e Farmacêutica Ltda.
João B. Calixto
Centro de Inovação e Ensaios Pré-clínicos (CIEnP)
Thiago Moreno L. Souza
Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde,
Fundação Oswaldo Cruz
Muitas das teorias da física estão calcadas em princípios. Um deles, o princípio da relatividade, impõe uma ‘justiça universal’ às leis da natureza: estas devem ser as mesmas para quaisquer observadores, independentemente do lugar e do tempo, seja passado, seja futuro
Pequeno tronco fóssil de 280 milhões de anos encontrado em São Paulo é o registo mais antigo de um grupo de plantas ornamentais bastante usadas atualmente e sugere que essas plantas devem ter tido uma distribuição mundial ampla muito antes do que se supunha
Reaproveitamento dos resíduos da agroindústria pode gerar energia, combustíveis e inúmeros produtos que podem levar o país ao protagonismo na transição inevitável para uma economia de baixo carbono. Mas, para usar todo esse potencial, é urgente o investimento em tecnologias.
Pandemia escancarou racismo estrutural no país e evidenciou a vulnerabilidade social: covid-19 é cinco vezes mais letal em negros do que em brancos. Estudos brasileiros precisam eliminar viés eurocêntrico, fornecendo dados genéticos próprios, que incluam recorte de cor.
A descoberta de uma nova espécie de perereca deixou felizes pesquisadores entristecidos pela devastação da mata onde o anfíbio foi encontrado. Na hora de batizá-lo, eles se lembraram da música de um compositor brasileiro capaz de transformar choro em alegria.
O avanço das tecnologias digitais e da conectividade tem promovido maior alcance e precisão das práticas de cuidado individuais e tem permitido o processamento e a análise de grandes volumes de dados epidemiológicos no campo da saúde coletiva
Instituições públicas focadas em inovação devem investir no conhecimento sobre regulação e desenvolver processos bem-estruturados e atualizados nessa área, para que os produtos de saúde cheguem mais rapidamente à população
Desenvolvimento de terapias personalizadas com vírus que infectam bactérias, chamados bacteriófagos, é alternativa promissora aos antibióticos disponíveis atualmente para tratar infecções resistentes, que se tornaram uma grave ameaça à saúde pública
O aumento de surtos e epidemias causados por vírus emergentes, principalmente os transmitidos por picada de insetos, reforça a importância de estudos para prospecção de novos vírus, diagnóstico correto das infecções e vigilância epidemiológica
A evolução das técnicas de registro de imagens biológicas tem permitido avanços significativos na investigação de doenças e na obtenção de diagnósticos mais rápidos e precisos, mas ainda é necessário investir em qualificação profissional e infraestrutura para a área
O país precisa aprimorar a legislação que dispõe sobre estudos com seres humanos para o desenvolvimento de produtos para a saúde, mas sem desrespeitar direitos e princípios já estabelecidos em normas nacionais e internacionais
As regras para avaliação e registro de novos medicamentos, equipamentos e insumos da área da saúde humana precisam acompanhar os avanços científicos mundiais para permitir que esses produtos inovadores cheguem mais rapidamente à população
Novo tipo de imunizante é capaz de ‘reeducar’ o sistema imunitário para que ele deixe de atacar as células do próprio corpo, interrompendo reações autoimunes relacionadas a doenças como a esclerose múltipla, entre outras
Estudar os fatores associados à frequência e distribuição das doenças nos diferentes grupos sociais fornece dados importantes para orientar a definição e a avaliação de políticas de saúde, entre outras aplicações
Analisar a relação entre custos e efeitos da incorporação de inovações tecnológicas ao sistema de saúde é essencial para melhorar o atendimento à população, assegurando o acesso a práticas efetivas e seguras, com os recursos disponíveis.
Conhecer e monitorar a diversidade de vírus que infectam as espécies desse grupo no nosso país é muito importante para detectar potenciais ameaças de novas epidemias ou pandemias, mas ainda existem muitas lacunas no estudo desses patógenos
Cookie | Duração | Descrição |
---|---|---|
cookielawinfo-checkbox-analytics | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Analytics". |
cookielawinfo-checkbox-functional | 11 months | The cookie is set by GDPR cookie consent to record the user consent for the cookies in the category "Functional". |
cookielawinfo-checkbox-necessary | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookies is used to store the user consent for the cookies in the category "Necessary". |
cookielawinfo-checkbox-others | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Other. |
cookielawinfo-checkbox-performance | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Performance". |
viewed_cookie_policy | 11 months | The cookie is set by the GDPR Cookie Consent plugin and is used to store whether or not user has consented to the use of cookies. It does not store any personal data. |