Evolução no combate ao câncer

Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde e Instituto Oswaldo Cruz,
Fundação Oswaldo Cruz e
Coordenação de Pesquisa e Inovação,
Instituto Nacional de Câncer
Coordenação de Pesquisa e Inovação,
Instituto Nacional de Câncer

Houve grandes avanços no desenvolvimento de métodos para diagnóstico e tratamento dessa doença nas últimas décadas. Mas o acesso universal a esses recursos, tanto no sistema de saúde público quanto no privado, é um desafio no Brasil

CRÉDITO: FOTO ADOBE STOCK

O câncer é um conjunto de doenças que surgem de alterações genéticas em uma célula, que levam à sua multiplicação desordenada no tecido de origem, podendo se espalhar posteriormente para outros órgãos (metástases). Sua incidência vem aumentando devido ao envelhecimento da população e à exposição a fatores de risco, o que faz do câncer a segunda maior causa de morte mundial atualmente, atrás apenas das doenças cardiovasculares. Mas estudos estimam que essa ordem poderá se inverter nas próximas décadas. Segundo levantamento do Instituto Nacional de Câncer (Inca), são estimados 704 mil novos casos da doença por ano entre 2023 e 2025, o que poderá impactar os gastos dos sistemas de saúde público e privado.

O tratamento do câncer se baseia em diferentes tipos de intervenções terapêuticas e em suas combinações. Terapias convencionais, como cirurgia, radioterapia e quimioterapia, são as principais ferramentas disponíveis. Pesquisas sobre os mecanismos moleculares do câncer permitiram o desenvolvimento de terapias direcionadas a alvos específicos dos tumores. Essas terapias-alvo têm o objetivo de atacar vulnerabilidades do câncer, inibindo o funcionamento de proteínas essenciais ao tumor, por meio da administração de drogas de pequenas moléculas (do inglês, small-molecule drugs) e de anticorpos monoclonais (proteínas que auxiliam o sistema imune a reconhecer e agir no foco da doença), como o Trastuzumabe, usado contra certos tipos de câncer de mama.

Somadas às terapias-alvo, as imunoterapias visam estimular o sistema imune dos pacientes, combatendo o tumor em seu microambiente. Elas incluem o uso de anticorpos monoclonais, de inibidores de checkpoint imunológico (que restabelecem a atividade antitumoral do sistema imune do paciente, como os inibidores de CTLA-4 e PD-1/PD-L1), de vacinas contra o câncer e da terapia de transferência de células T, como a terapia CAR-T. Essa terapia consiste na manipulação genética de um tipo de células de defesa do paciente, os linfócitos T, para que estes eliminem então as células tumorais.

A terapia CAR-T desponta como alternativa promissora para o tratamento do câncer, especialmente para linfomas e leucemias. No Brasil, ela foi empregada pela primeira vez em 2019 pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo em um paciente com linfoma que deixou de apresentar sinais da doença após o tratamento. Apesar das ótimas perspectivas clínicas, o uso dessa terapia tem desafios, como a logística necessária para a reprogramação dos linfócitos e sua reintrodução no paciente, além do altíssimo custo, estimado em R$ 2 milhões por pessoa. As terapias-alvo e as imunoterapias têm sido usadas como importantes aliadas das terapias convencionais no tratamento do câncer.

Assim como o tratamento, o diagnóstico do câncer evoluiu muito nas últimas décadas. Hoje existem exames moleculares de biópsias tumorais que oferecem informações importantes e influenciam a decisão do tratamento. Por exemplo, o sequenciamento do DNA tumoral, apesar de caro e de acesso restrito, leva a uma classificação mais precisa do tumor, permitindo um tratamento personalizado. Há também a biópsia líquida, um exame não invasivo capaz de identificar células ou fragmentos de DNA do tumor em amostras de fluidos corporais. Diagnósticos precoces e precisos são essenciais para permitir o tratamento do câncer nas fases iniciais, torná-lo mais barato e reduzir a incidência de tumores invasivos.

Os pacientes ainda enfrentam problemas no tratamento do câncer pelo Sistema Único de Saúde (SUS), como diagnóstico tardio e falta de medicamentos. O acesso universal às terapias avançadas é um desafio para o sistema público e, em muitos casos, também para o privado. Uma alternativa para reduzir a incidência de câncer e os custos associados ao tratamento é investir em estratégias de prevenção, como a vacinação contra o HPV e o rastreamento por mamografia, colonoscopia e exames ginecológicos.

Para superar as dificuldades no tratamento do câncer no Brasil, existem iniciativas importantes de instituições públicas ligadas ao Ministério da Saúde. Este ano, por exemplo, a Fiocruz e o Inca assinaram um acordo inédito de cooperação técnica para o desenvolvimento de terapias avançadas contra o câncer e suas incorporações ao SUS, incluindo novas estratégias de diagnóstico molecular, produção de medicamentos para imunoterapia e transferência de tecnologia para o emprego da terapia CAR-T. Ainda há um longo caminho a ser percorrido, mas essas iniciativas demonstram o compromisso das instituições públicas com o tratamento do câncer no Brasil.

Diagnósticos precoces e precisos são essenciais para permitir o tratamento do câncer nas fases iniciais, torná-lo mais barato e reduzir a incidência de tumores invasivos

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