Cigarrinha da cana-de-açúcar morta por ação de M. anisopliae. (foto cedida por Itaforte Bioprodutos)

No Brasil, as biofábricas de microrganismos entomopatógenos (que causam doenças em insetos) ainda são pouco conhecidas, embora o setor esteja crescendo a passos largos. Na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), em Cascavel, um projeto destinado à construção de um laboratório para produzir fungos irá atender à demanda de pequenos agricultores da região por esses agentes microbianos. A proposta, que tem o apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), é uma novidade no local e tem tudo para dar certo.

A produção intensiva de grãos – principalmente soja, milho e trigo – tem forte expressão no agronegócio do oeste paranaense, mas os pequenos agricultores não recebem a devida assistência no que diz respeito a controle biológico. “O interesse pela produção orgânica tem crescido, estimulado principalmente pela vocação da região e pela crise na agricultura convencional”, diz o biólogo Luis Francisco Angeli Alves, coordenador do projeto.

Serão produzidos Metarhizium anisopliae e Beauveria bassiana , espécies de fungo que atacam ácaros, cigarrinhas e moscas-brancas, entre outras pragas comuns nas propriedades locais. A idéia é produzir os microrganismos de acordo com a demanda. A produção dos fungos será feita segundo técnicas já adotadas em outras biofábricas brasileiras. Os microrganismos são colocados sobre substrato sólido composto de grãos de arroz, onde se desenvolvem com facilidade. Depois de reproduzidos, são embalados e distribuídos.

As principais culturas desenvolvidas pelos pequenos produtores da região, principalmente no sistema orgânico, são hortaliças (tomate, pepino, pimentão, feijão-vagem, couve etc.), mandioca, café, algodão, pastagens – e os entomopatógenos podem ser aplicados mesmo no caso de plantios confinados em estufas. A previsão é de que o laboratório da Unioeste comece a produzir e fornecer os agentes de controle biológico no primeiro semestre de 2007.

Bactérias, vírus e nematóides
Além de fungos, bactérias, nematóides e vírus também podem ser produzidos em laboratório. Mas no Brasil há certa irregularidade na produção: enquanto algumas biofábricas já preparam fungos, a primeira iniciativa de trabalho com nematóides só agora começou a ser articulada, em São Paulo. Por outro lado, bactérias para controle de pragas agrícolas são importadas, embora algumas instituições nacionais dominem tecnologia para produzi-las.

Produção de M. anisopliae sobre arroz em laboratório da Itaforte. (foto cedida por Itaforte Bioprodutos)

O processo de produção dos microrganismos em grande quantidade e a custo reduzido pode se dar de duas formas, a depender da espécie com que se trabalha. No caso de bactérias, fungos e nematóides, a produção é realizada in vitro , em meio líquido ou sólido (embora nematóides possam também ser produzidos in vivo ). No caso de vírus, esse tipo de produção é feito in vivo , ou seja, diretamente no organismo de um exemplar da praga.

Os equipamentos necessários para aplicar entomopatógenos são, em geral, os mesmos usados para pulverizar produtos químicos, e os custos de sua aplicação não divergem muito daqueles que se têm com o uso de agrotóxicos. A diferença é que, no caso de microrganismos, às vezes são necessárias aplicações mais constantes. “A discussão sobre a vantagem do emprego de entomopatógenos não deve se restringir a custos, mas estender-se aos seus benefícios à preservação do meio ambiente”, diz Alves. Como os microrganismos são retirados da natureza, não passam por manipulação genética e são distribuídos de modo controlado; não há risco de perda de biodiversidade, como atestam diversos estudos de impacto ambiental.

Localiza-se também no município paranaense de Cascavel a maior referência brasileira em produção de agentes microbianos para controle biológico. Ali está instalada a única biofábrica brasileira de vírus que trabalha em uma cadeia de produção fechada: da reprodução do hospedeiro à formulação do produto. Em seu laboratório se desenvolve o baculovírus da lagarta-da-soja, principal praga desfolhadora da cultura que lhe dá nome.

No caso da nova biofábrica na Unioeste, destaca-se o compromisso social. Segundo Alves, haverá treinamento para que agricultores não dependam de empresas para utilizar adequadamente os entomopatógenos. Como o produto é composto de microrganismos vivos, seu uso exige cuidados diferentes daqueles que se deve ter durante a aplicação de produtos químicos. “A proposta não é produzir fungos e soltá-los na mão do produtor; queremos difundir a tecnologia de modo responsável.”

Célio Yano
Especial para Ciência Hoje/PR

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