Novo predador marinho fóssil com três olhos

Museu Nacional/ UFRJ
Academia Brasileira de Ciências
INCT Paleovert

Descrita a partir de 61 exemplares encontrados em rochas de cerca de 506 milhões de anos no Canadá, nova espécie de artrópode apresenta estrutura do corpo bem distinta dos outros membros do grupo, sugerindo grande diversificação desde o período Cambriano

Reconstrução de Mosura fentoni, novo artrópode predador que viveu há aproximadamente 506 milhões de anos na região que hoje chamamos de Canadá 

CRÉDITO: DANIELLE DUFAULT © ROM

A paleontologia pode ser surpreendente. Uma nova espécie de artrópode, que viveu há aproximadamente 506 milhões de anos, no período Cambriano, acaba de ser descrita. A espécie modifica o entendimento sobre a evolução dos radiodontes (Radiodonta), que são um dos primeiros grupos de artrópodes predadores conhecidos. O estudo, realizado por Joseph Moysiuk, do Museu de Manitoba (Canadá), e Jean-Bernard Caron, do Museu Real de Ontário (Toronto, Canadá), foi publicado na revista científica Royal Society Open Science.

A nova espécie foi batizada de Mosura fentoni, em alusão ao monstro japonês fictício conhecido como Mothra e em homenagem a Peter Fenton, técnico que trabalha por mais de 40 anos no Museu Real de Ontário. Sua descrição baseia-se em 60 exemplares coletados em nove atividades de campo realizadas entre 1990 e 2022 na unidade estratigráfica Burgess Shale. Essas rochas, compostas principalmente por folhelhos (sedimentos com alto teor de matéria orgânica), afloram na Colúmbia Britânica, no oeste do Canadá. Um exemplar adicional de Mosura fentoni também foi identificado em uma das primeiras coleções de fósseis da região, feita há muitos anos e que se encontra depositada no Museu Nacional de História Natural Smithsonian, em Washington (Estados Unidos).

A área onde os exemplares de Burgess Shale são encontrados, além de ser muito turística, por causa de seu visual, abriga um dos principais capítulos da história do desenvolvimento e da diversificação da vida no nosso planeta. A rica fauna de animais do período Cambriano, que já foi objeto de diversos estudos, incluindo o famoso livro Vida Maravilhosa (Wonderful life, em inglês), do paleontólogo Stephen Gould (1941-2002), é formada por centenas de exemplares excepcionalmente bem preservados, que abrem uma janela para um mundo muito diferente do atual. Para começar, naquela época não existiam anfíbios ou répteis e basicamente os únicos vertebrados eram os peixes, que tinham acabado de surgir (há cerca de 530 milhões de anos). Havia um gigantesco oceano, chamado Panthalassa, que era povoado por criaturas bastante estranhas. Entre elas, cabe destaque para integrantes do grupo extinto Radiodonta, nome que deriva da configuração das placas dentárias em forma de anel que circundavam a região da boca desses animais, também chamada de cone oral.

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