O corpo ensina a combater o câncer

Nos últimos 10 anos, os imunologistas realizaram avanços impressionantes no conhecimento sobre a geração de respostas imunes para a defesa do organismo. Um dos resultados mais promissores levou à retomada dos estudos de imunoterapia para controlar e impedir o crescimento de tumores. Atualmente, no mundo inteiro, inclusive no Brasil, cientistas buscam desenvolver uma terapia celular de baixa toxicidade para pacientes de câncer, utilizando o potencial existente no próprio corpo para combater o estabelecimento e a expansão de tumores.

Muitas pessoas não sabem que seu corpo consegue combater o câncer. O corpo humano tem suas defesas, que formam o chamado sistema imunológico. Esse sistema, constituído por diversas células e moléculas que trabalham monitorando constantemente todo o organismo, é ativado por sinais (ou seja, informações) como a morte ou a infecção de células e a lesão ou a alteração de tecidos. A conseqüência é a geração de respostas imunes, cujos objetivos principais são eliminar os agentes causadores dessas alterações e reparar as áreas danificadas.

O câncer é o resultado de modificações genéticas produzidas em células, seja por vírus ou por agentes externos, como radiação ou substâncias químicas. As células tumorais são diferentes, no aspecto e no comportamento, das mesmas células antes da transformação.

Uma característica essencial das células tumorais é a capacidade aumentada de divisão celular, muito superior à apresentada por células normais. Isso resulta na expansão desenfreada da população de células transformadas, que em última análise acabam ocupando o espaço onde antes havia tecido saudável, levando à deterioração progressiva de órgãos e finalmente à morte.

Mas, afinal, o corpo pode ou não se defender do câncer? Na verdade, ele faz isso constantemente. Alterações genéticas com potencial para gerar tumores ocorrem diariamente em nossas células, em função da exposição quase constante à radiação ultravioleta, a agentes tumorigênicos (na comida, em cosméticos, em substâncias poluentes etc.) e a infecções por vírus, ou mesmo em decorrência de predisposição genética. E o corpo detecta essas transformações.

O sistema imunológico tem as suas ’unidades móveis’: os leucócitos, ou células brancas. Essas células, produzidas na medula óssea, circulam no sangue e na linfa. Elas fazem, com freqüência, paradas estratégicas nos chamados órgãos linfóides, ou linfonodos, distribuídos ao longo de todo o corpo. Todos os linfonodos são como filtros, conectados entre si por um sistema de drenagem, o sistema linfático, que irriga todo o organismo. Constantemente, há drenagem de material de todos os locais do corpo para os linfonodos mais próximos. Ali, esse material é analisado pelas células do sistema imunológico.

Se o material for compreendido como uma alteração com potencial danoso, uma resposta adequada é gerada no linfonodo e enviada, na forma de ’unidades móveis ativadas’, para o local do dano. Essa sensação já deve ter sido experimentada pelos leitores: ’caroços’ doloridos sob a língua ou as famosas ’ínguas’ – inchaços nas axilas ou na região da virilha. Estes são sinais de uma resposta imune sendo preparada nos linfonodos para ser enviada ao local afetado, certamente próximo do ’caroço’.

Tanto o câncer como as infecções são analisados nos linfonodos drenantes, que então desencadeiam respostas apropriadas. Dentro de um tumor sólido, ou ao redor deste, muitas vezes são observados linfócitos infiltrados. Eles sinalizam que uma resposta imune foi ativada contra esse tumor nos linfonodos e que o organismo está tentando eliminar as células tumorais. A presença de linfócitos infiltrados no tumor normalmente está correlacionada à sobrevida do paciente. A mesma coisa acontece durante infecções. Se isso acontece sempre, por que alguns tumores crescem e matam o hospedeiro?

 

Cristina Bonorino
Faculdade de Biociências e Instituto de Pesquisas Biomédicas,
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

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