Embora milhões de xícaras de café sejam consumidas diariamente para aumentar o ânimo, a cafeína não foi criada para aumentar a disposição de nós, humanos. Essa substância é, antes de tudo, uma estratégia química desenvolvida pela planta, chamada cafeeiro, para se proteger.

No cafeeiro, a cafeína funciona como um pesticida natural: intoxica insetos, inibe microrganismos e até desestimula herbívoros a mastigar folhas e frutos, já que a maioria dos animais acha seu gosto desagradável. Na escala da evolução, isso faz parte de uma verdadeira “corrida armamentista”: enquanto insetos buscam se alimentar, as plantas produzem compostos de defesa. Chá, cacau e fumo seguiram caminhos parecidos, produzindo cafeína ou nicotina para afastar inimigos.

A substância também pode ser liberada pelas raízes, formando um “círculo de exclusão” no solo, onde plantas competidoras e fungos têm dificuldade de crescer, um processo chamado alelopatia. Curiosamente, alguns estudos mostram que a cafeína pode até favorecer fungos aliados, como o Trichoderma, que combate patógenos.

Pesquisas recentes de cientistas brasileiros revelam que folhas de café arábica — a espécie mais cultivada no Brasil — concentram muito mais cafeína que espécies silvestres do mesmo gênero. Esse excesso parece “filtrar” os microrganismos que vivem na superfície das folhas: ajuda a controlar patógenos, mas também pode reduzir aliados.

Assim, o que nos desperta pela manhã é, na verdade, o resultado de milhões de anos de evolução de mecanismos de defesa que garantiram a sobrevivência do cafeeiro.