Os graves problemas ambientais causados pelos derramamentos de óleo no mar e em terra estão mais próximos de uma solução. Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) desenvolveram um tipo de detergente totalmente biodegradável. Foi inaugurada em julho último, no Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), a primeira unidade-piloto do país para a produção em larga escala do detergente, que utiliza microrganismos do ambiente para degradar o petróleo derramado.

A criação do produto é fruto de uma pesquisa iniciada há 10 anos, parceria da Coppe com o Instituto de Química da UFRJ, que teve financiamento da Petrobras. O detergente, chamado tecnicamente de biossurfactante (composto que reduz a tensão superficial de uma solução), é produzido naturalmente pela fermentação aeróbia de bactérias do gênero Pseudomonas, originárias de poços de petróleo. “O detergente que essas bactérias produzem facilita seu acesso às longas cadeias de carbono do petróleo, sua única fonte de energia dentro dos poços”, explica o engenheiro químico Frederico Kronemberger, da Coppe.

Por ser biodegradável, o próprio detergente será consumido após sua aplicação na área

É da mesma maneira que o biossurfactante agirá no solo ou no mar, onde houver derramamento de óleo: microrganismos que não o produzem naturalmente vão utilizá-lo para ter acesso às longas cadeias de carbono do petróleo e consumir esse poluente. Depois, o próprio detergente será consumido, já que é biodegradável, e a área volta a ficar limpa.

Para produzir o biossurfactante, os pesquisadores usam uma fonte de carbono alternativa ao petróleo: a glicerina. Por ser o principal subproduto do biodiesel, ela é encontrada em abundância e com preço baixo no mercado. Ao serem imersas na glicerina, as bactérias produzem o detergente. Testes em laboratório com terra e água contaminadas com petróleo mostraram a eficácia do novo produto.

Detergente biodegradável
Antes da inauguração da planta-piloto, o detergente era produzido em frascos agitados com pequeno volume.

Os pesquisadores tiveram, porém, de vencer uma barreira no processo de produção: na fermentação aeróbia, o ar é disperso no meio de cultivo para que o oxigênio se dissolva na solução aquosa. O resultado é uma enorme produção de espuma, o que inviabilizava a produção em larga escala. A solução, encontrada durante o doutorado de Kronemberger na Coppe, foi utilizar membranas capazes de controlar a difusão e a concentração de oxigênio dissolvido na solução, evitando assim a formação de espuma. Com isso, os pesquisadores conseguiram passar de uma produção de 300 ml para 3 litros de biossurfactante com o mesmo volume de solução, nos testes iniciais.

 

Testes em campo

Com a inauguração da Unidade Piloto para Produção de Biossurfactantes, serão fabricados 200 litros do detergente por semana. Agora, os pesquisadores poderão realizar testes em campo para determinar qual a concentração de produto necessária para aplicações na terra e no mar. Segundo Kronemberger, eles serão feitos até o início de 2010.

Com a inauguração da primeira unidade-piloto do país, a produção do detergente passou a 200 litros por semana

O engenheiro químico explica que os procedimentos adotados hoje para limpar um derramamento de óleo são insuficientes. Quando há um acidente no mar, a região contaminada é isolada por boias e drenada e o petróleo que sobra é deixado na água. No solo, a área atingida é levada para um aterro ou tratada em estações químicas. “O problema é somente transferido de local, e não solucionado”, afirma Kronemberger. “Além disso, o uso de um detergente químico cria outro problema, já que, não sendo biodegradável, permanece no ambiente”, completa.

O resultado dos derramamentos de óleo é nefasto para a natureza. Como consequência, ocorre o bloqueio da luz e da passagem de oxigênio para os seres vivos, a morte massiva da fauna microbiana e a acumulação de petróleo na cadeia alimentar, já que um animal se alimenta de um microrganismo contaminado, e assim sucessivamente. Por isso, a busca de uma solução efetiva para esse problema é primordial. “O uso do detergente biodegradável é a maneira mais correta e eficaz para controlar um acidente ambiental, com a vantagem do baixo custo”, ressalta Kronemberger, acrescentando que o biossurfactante pode ser usado da mesma maneira que o detergente convencional, com a vantagem de ser biodegradável.

 

Tatiane Leal
Ciência Hoje/ RJ

Texto publicado na CH 265 (novembro/2009)

Outros conteúdos desta edição

614_256 att-21588
614_256 att-21586
614_256 att-21584
614_256 att-21580
614_256 att-21578
614_256 att-21576
614_256 att-21574

Outros conteúdos nesta categoria

614_256 att-22975
614_256 att-22985
614_256 att-22993
614_256 att-22995
614_256 att-22987
614_256 att-22991
614_256 att-22989
614_256 att-22999
614_256 att-22983
614_256 att-22997
614_256 att-22963
614_256 att-22937
614_256 att-22931
614_256 att-22965
614_256 att-23039